O poeta DIÓGENES DA CUNHA LIMA leva-nos a
meditar sobre as palavras do grande SANTO AGOSTINHO. Este insistia junto aos padres
de sua diocese: A teologia e a poesia
devem ser ousadas e criativas. Ambas transcendem a linguagem humana e nos aproximam
do Mistério. Assim, pode-se encontrar Deus. Neste sentido, poesia e teologia
são divinas e transcendentais, manifestando traços da essência do Infinito. Seguramente,
o poético é profético. Na medida em que o poema ultrapassa o humano, desvela o
Eterno. Torna-se profético, na pura acepção semântica e teologal, revelando
Deus.
Neste livro, Diógenes cria e inova, recontando
de modo encantador a história do nascimento de Cristo, situando-o nesta Cidade
do Natal. Torna contemporâneos personagens de diferentes períodos da história.
No centro, está Cristo – atemporal e Eterno – que poderá ser situado
cronologicamente ao lado de Agostinho, Francisco de Assis, Pedro, Antônio etc.
O cristianismo é essencialmente a religião do Verbo Encarnado. E Deus se fez carne e habitou entre nós (Jo
1, 14). Isso é teológico, além de ser poético.
O livro, na intenção do autor, tem o
objetivo de atrair crianças para um fato histórico, porém sempre atual. Jesus
continua nascendo. E vem ao mundo, trazendo alegria, bondade, amor e esperança.
Como EXUPÉRY (em “O Pequeno Príncipe”), Diógenes, dedica seu livro à eterna criança que há em nós.
Nesta obra, nosso estimado amigo envereda
pelos caminhos da literatura cristã. Desde a cultura hebraica e bíblica, perpassa
pelo cristianismo a presença forte de metáforas, alegorias, metonímias e outras
figuras. O MESTRE falava em parábolas, afirmam os evangelistas (cf. Mt 13,
10-15). Sendo Deus o Indescritível, a forma mais prática e eficiente de
manifestar os seus traços é comparabilidade. O Mistério não é o inatingível,
mas o inesgotável pela linguagem linear. MARTIN HEIDEGGER dizia que o Mistério é o que se conhece fora das
possibilidades e dos limites do dizer.
Natal de Zé Zus situa-se na tradição das
produções literárias dos primeiros séculos da história cristã. De lá saíram
ricos textos, alguns, posteriormente, chamados de Evangelhos Apócrifos. São
produções circunstanciadas de criatividade e ficção, fortes em mensagens, cujo
objetivo consistia em sensibilizar os fiéis daquela época. O autor recria sua
narrativa com figuras e imagens fascinantes, que nos aproximam do Mistério.
O poeta Diógenes apresenta-nos um texto de
fé. E esta não é uma questão de palavras. Ela é a linguagem divina nos lábios
humanos. Mostra-nos nas páginas do Natal de Zé Zus a catolicidade, isto é,
Cristo presente nas nossas diferenças humanas, na multiplicidade de vidas e
culturas.
Queremos destacar a vivacidade e o clima de encantamento presentes
em sua narrativa. Faz-nos lembrar um teólogo evangélico, quando exclamou: Fujam daqueles que têm certezas. Eles têm
gaiolas em suas mãos e em seus corações. Os pássaros que mantêm presos, são
aves empalhadas. São ídolos. Somos livres para pensar, descrever Cristo e amá-lo.
Diógenes quis aproximá-lo de nós, pois acredita, partindo de seu saber e sua fé, que Deus caminha conosco. Não somos solitários, mas solidários,
e talvez seja essa a maior novidade do pensar cristão.
O autor parte do cotidiano natalense, sendo impregnado e envolvido
pelas origens do cristianismo. E assim, somos contagiados pela beleza e alegria
dos personagens em sua narrativa. Infelizmente, o tempo rouba-nos as coisas e
as pessoas que amamos. Vão-se arbustos e rochedos, riachos cristalinos, entes
queridos... Vamos nós. No entanto, Deus existe para nos curar da saudade. E Zé Zus renovará tudo, pois Ele carrega a força do Espirito.
Deus está bem perto de nós. É o núcleo deste
livro de Diógenes. Nada de ausência divina e sobrenatural. Aqui se encontram o
poeta potiguar e o vate gaúcho, MÁRIO QUINTANA:
Se as estrelas são
inatingíveis, isso não é motivo para não querê-las. Que tristes seriam os
caminhos, se não fosse a mágica presença das estrelas.
Cunha Lima (como FERNANDO PESSOA/CAIEIRO
em “O guardador de rebanhos”) tem a preocupação de mostrar também um Deus
criança, que brinca conosco. E os que brincam são incapazes de fazer maldade. E
deram o nome de Zé Zus a essa criança sonhada, que haveria de nascer!
Este livro é uma esperança para o mundo
triste e violento, no qual vivemos. Por isso, não podemos esquecer o que
escreveu ADÉLIA PRADO: a poesia é a serva
da esperança. O autor descreve o nascimento do Príncipe da Paz, nos dias atuais.
E cabe dizer que a esperança é como uma estrela. Somente aqueles que caminharam
nas trevas, são capazes de vê-las!
SÃO FRANCISCO DE ASSIS foi o homem do
presépio: metáfora do nascimento de Cristo. E Diógenes, poeta, cria uma nova
manjedoura para o Filho de Deus. E nada melhor para situar a poesia do que a
paráfrase de RUBEM ALVES sobre o prólogo do Evangelho de João:
No princípio,
antes que qualquer coisa existisse, antes mesmo que houvesse o Universo, o que
havia era Poesia. Deus era Poesia. E a Poesia era Deus. Deus e a Poesia eram a
mesma coisa. Depois, Deus criou as estrelas para com elas, escrever os seus
poemas no céu.
Natal de Zé Zus é uma forma renovada de poesia e
teologia!
NATAL (RN), festa da Natividade
de São João Batista de 2018.
Padre JOÃO MEDEIROS FILHO
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