quinta-feira, 28 de junho de 2018

SABOREANDO A LEITURA DO “NATAL DE ZÉ ZUS”




O poeta DIÓGENES DA CUNHA LIMA leva-nos a meditar sobre as palavras do grande SANTO AGOSTINHO. Este insistia junto aos padres de sua diocese: A teologia e a poesia devem ser ousadas e criativas. Ambas transcendem a linguagem humana e nos aproximam do Mistério. Assim, pode-se encontrar Deus. Neste sentido, poesia e teologia são divinas e transcendentais, manifestando traços da essência do Infinito. Seguramente, o poético é profético. Na medida em que o poema ultrapassa o humano, desvela o Eterno. Torna-se profético, na pura acepção semântica e teologal, revelando Deus.

Neste livro, Diógenes cria e inova, recontando de modo encantador a história do nascimento de Cristo, situando-o nesta Cidade do Natal. Torna contemporâneos personagens de diferentes períodos da história. No centro, está Cristo – atemporal e Eterno – que poderá ser situado cronologicamente ao lado de Agostinho, Francisco de Assis, Pedro, Antônio etc. O cristianismo é essencialmente a religião do Verbo Encarnado. E Deus se fez carne e habitou entre nós (Jo 1, 14). Isso é teológico, além de ser poético.

O livro, na intenção do autor, tem o objetivo de atrair crianças para um fato histórico, porém sempre atual. Jesus continua nascendo. E vem ao mundo, trazendo alegria, bondade, amor e esperança. Como EXUPÉRY (em “O Pequeno Príncipe”), Diógenes, dedica seu livro à eterna criança que há em nós.

Nesta obra, nosso estimado amigo envereda pelos caminhos da literatura cristã. Desde a cultura hebraica e bíblica, perpassa pelo cristianismo a presença forte de metáforas, alegorias, metonímias e outras figuras. O MESTRE falava em parábolas, afirmam os evangelistas (cf. Mt 13, 10-15). Sendo Deus o Indescritível, a forma mais prática e eficiente de manifestar os seus traços é comparabilidade. O Mistério não é o inatingível, mas o inesgotável pela linguagem linear. MARTIN HEIDEGGER dizia que o Mistério é o que se conhece fora das possibilidades e dos limites do dizer.

Natal de Zé Zus situa-se na tradição das produções literárias dos primeiros séculos da história cristã. De lá saíram ricos textos, alguns, posteriormente, chamados de Evangelhos Apócrifos. São produções circunstanciadas de criatividade e ficção, fortes em mensagens, cujo objetivo consistia em sensibilizar os fiéis daquela época. O autor recria sua narrativa com figuras e imagens fascinantes, que nos aproximam do Mistério.

O poeta Diógenes apresenta-nos um texto de fé. E esta não é uma questão de palavras. Ela é a linguagem divina nos lábios humanos. Mostra-nos nas páginas do Natal de Zé Zus a catolicidade, isto é, Cristo presente nas nossas diferenças humanas, na multiplicidade de vidas e culturas.

Queremos destacar a vivacidade e o clima de encantamento presentes em sua narrativa. Faz-nos lembrar um teólogo evangélico, quando exclamou: Fujam daqueles que têm certezas. Eles têm gaiolas em suas mãos e em seus corações. Os pássaros que mantêm presos, são aves empalhadas. São ídolos. Somos livres para pensar, descrever Cristo e amá-lo. Diógenes quis aproximá-lo de nós, pois acredita, partindo de seu saber e sua fé, que Deus caminha conosco. Não somos solitários, mas solidários, e talvez seja essa a maior novidade do pensar cristão.

O autor parte do cotidiano natalense, sendo impregnado e envolvido pelas origens do cristianismo. E assim, somos contagiados pela beleza e alegria dos personagens em sua narrativa. Infelizmente, o tempo rouba-nos as coisas e as pessoas que amamos. Vão-se arbustos e rochedos, riachos cristalinos, entes queridos... Vamos nós. No entanto, Deus existe para nos curar da saudade. E Zé Zus renovará tudo, pois Ele carrega a força do Espirito.

Deus está bem perto de nós. É o núcleo deste livro de Diógenes. Nada de ausência divina e sobrenatural. Aqui se encontram o poeta potiguar e o vate gaúcho, MÁRIO QUINTANA:

Se as estrelas são inatingíveis, isso não é motivo para não querê-las. Que tristes seriam os caminhos, se não fosse a mágica presença das estrelas.

Cunha Lima (como FERNANDO PESSOA/CAIEIRO em “O guardador de rebanhos”) tem a preocupação de mostrar também um Deus criança, que brinca conosco. E os que brincam são incapazes de fazer maldade. E deram o nome de Zé Zus a essa criança sonhada, que haveria de nascer!

Este livro é uma esperança para o mundo triste e violento, no qual vivemos. Por isso, não podemos esquecer o que escreveu ADÉLIA PRADO: a poesia é a serva da esperança. O autor descreve o nascimento do Príncipe da Paz, nos dias atuais. E cabe dizer que a esperança é como uma estrela. Somente aqueles que caminharam nas trevas, são capazes de vê-las!

SÃO FRANCISCO DE ASSIS foi o homem do presépio: metáfora do nascimento de Cristo. E Diógenes, poeta, cria uma nova manjedoura para o Filho de Deus. E nada melhor para situar a poesia do que a paráfrase de RUBEM ALVES sobre o prólogo do Evangelho de João:

No princípio, antes que qualquer coisa existisse, antes mesmo que houvesse o Universo, o que havia era Poesia. Deus era Poesia. E a Poesia era Deus. Deus e a Poesia eram a mesma coisa. Depois, Deus criou as estrelas para com elas, escrever os seus poemas no céu.

Natal de Zé Zus é uma forma renovada de poesia e teologia!

NATAL (RN), festa da Natividade de São João Batista de 2018.
Padre JOÃO MEDEIROS FILHO





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