terça-feira, 31 de outubro de 2017

MEUS OITO ANOS





Poema recitado por um Diogenes menino, na escola. Autoria de Casimiro de Abreu.

Oh! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
– Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor!

Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!

Oh! dias de minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez de mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberta ao peito,
– Pés descalços, braços nus –
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo,
E despertava a cantar!

Oh! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
– Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!





MARCUS ACCIOLY (1943-2017)




É com tristeza e com emoção que soube do falecimento do amigo e poeta Marcus Accioly. Sua obra literária está escrita na poesia brasileira. Foi essencialmente em vida um grande poeta.

Nascido em Aliança, Pernambuco, quando lançou, em 1971, “Nordestinados”, angariou fãs renomados. “Poeta do povo nordestino, poeta da minha predileção”, escreveu o baiano Jorge Amado. “Grande poeta (...) Poeta - repita-se -, dentre os maiores produzidos pelo Brasil”, elogiou Gilberto Freyre.

Meu amigo da vida inteira, um homem extraordinário.  Esteve recentemente comigo. Uma pena. Mas um grande poeta nunca morre, sua poesia continuará conosco.




DUAS VEZES TOM JOBIM




A minha obra é toda um canto de amor ao Brasil. Minha terra, meu povo, fauna e flora à vista da minha janela ou da janela do avião.

Viver no exterior é bom, mas é uma merda. Viver no Brasil é uma merda, mas é bom.

TOM JOBIM




FRIEDRICH SCHILLER (1759-1905)




Os poetas são os legisladores não reconhecidos do mundo.

FRIEDRICH SCHILLER




sexta-feira, 27 de outubro de 2017

RIO GRANDE DO NORTE




O Rio Grande do Norte ilumina o Brasil com energia solar, eólica e petrolífera. Tempera a panela nacional com 90% do sal. Grande produtor e exportador de frutas, oferece os melhores produtos para sobremesas. Seduz a nossa culinária com o camarão.




quarta-feira, 25 de outubro de 2017

SAUDAÇÃO DE GAUDÊNCIO TORQUATO - I PARTE





Senhoras e Senhores

Minha primeira palavra é para explicar a razão que justifica minha presença nesse evento da Academia Norte Rio-Grandense de Letras. O que me traz aqui? Por que o centro da cultura e das letras da terra potiguar abre suas portas para ouvir nesse evento dos Multiplicadores a peroração deste conterrâneo, aliás, um conterrâneo que nunca teve a felicidade de habitar a querida cidade do Natal?

Explico. Aqui estou graças ao gesto magnânimo dos componentes desta Casa, dirigida pela extraordinária figura do polivalente Diógenes da Cunha Lima, advogado, escritor, poeta, professor, consultor, intelectual de primeira linha, pessoa querida, admirada e respeitada. Com a bondade que é marca de sua personalidade, apresentou meu nome aos seus pares e estes aprovaram meu ingresso como Sócio de Honra na Academia

Integrar o quadro de figuras de alto calibre do mundo das letras e da cultura do nosso Estado, que participa desta Casa, é motivo de orgulho. Afinal, passam e passaram por aqui nomes da mais alta estirpe intelectual do país, a partir daquele que ilustra a galeria mais elevada da cultura brasileira, Luis da Câmara Cascudo, sob cuja liderança foi fundada, em 15 de novembro de 1937, a Academia Norte-Rio-Riograndense de Letras.

Poeta Diógenes, antes de cumprir a missão com que me distinguiu,  a de proferir a saudação a quatro grandes figuras do empreendedorismo potiguar, os empresários João Claudino Fernandes, Marcelo Alecrim, Pedro Alcântara Rego de Lima e Flávio Rocha, permita-me pinçar breves passagens de sua produção intelectual. Como você teve a feliz ideia de nomear os quatro homenageados da noite, cometi a ousadia de inseri-lo no rol das homenagens. 

Desculpe-me, portanto, por esta rápida curva na linha do nosso acerto.

Começo com a lembrança de sua afamada verve, presidente. Sempre com uma novidade para contar, cheio de boas e risíveis histórias, você é o centro das atenções em uma boa conversa de grupo. Irradia imensa  bondade, que se expressa em comportamentos e gestos. Bondade assim descrita por você: “Se não vencer a bondade, o que podemos fazer?” Agradeço, portanto, a generosidade com que propôs meu nome ao crivo dos integrantes desta Casa. Generosidade com que você me eleva, até, à condição de natalense. Não é o que prega em seu livro, Natal, Uma Nova Biografia? Lá está escrito: “quem ama Natal é natalense. Todo potiguar considera-se natalense, mesmo nascendo em Passa e Fica, Caiçara do Rio dos Ventos, Jardim do Seridó ou Timbaúba dos Batistas”. Assim seja. Nascidos na serra de Luis Gomes podem, portanto, se considerar natalenses.  

Passo a fazer agora um pequeno exercício de juntar consoantes e vogais, o esqueleto e a carne das palavras, como diz Schopenhauer em seu livro A Arte de Escrever, para lembrar um pouco sua obra, poeta. Tomo a liberdade de correr por retas e curvas de sua poesia, sugerindo, inicialmente, um encontro seu com Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto, ou, como era chamado, Pablo Neruda, aqui em Natal. (Vale lembrar que o poeta já passara pelo Brasil, primeiramente em 1945, quando participou de uma homenagem a Carlos Prestes.

Foi brindado por nosso Carlos Drummond de Andrade com estes versos em seu poema-manifesto em "Consideração do Poema", que abre o livro "A Rosa do Povo", de 1945: "Estes poetas são meus. De todo orgulho,/ de toda a precisão se incorporaram/ ao fatal meu lado esquerdo. Furto a Vinicius/ sua mais límpida elegia. Bebo em Murilo. Que Neruda me dê sua gravata chamejante/ Me perco em Apollinaire. Adeus, Maiakovski...". No Brasil, era amigo de Jorge Amado e do poeta Tiago de Mello.

Pois bem, imaginemos que deixando por uns dias seus barquinhos, conchas, cachimbos e garrafas, estampados nas paredes de seu paraíso na Isla Negra, Neruda passa alguns dias entre nós. Numa aprazível tarde de primavera, senta-se ao lado de Diógenes para ouvir respostas ao seu Livro de Las Preguntas, a partir de O Livro das Respostas:

Neruda: - Por qué se entristece la tierra cuando aparecen las violetas?
Diógenes: - Porque a flor só se encanta na cor da semana santa
O poeta chileno: Te hás dado cuenta que el otoño / es como una vaca amarilla?
O poeta potiguar- Percebi. Pelo leite derramado.
Neruda -Cuál es el pájaro amarillo / que llena el nido de limones?
- Diógenes -O pássaro infiel
Neruda: Si se termina el amarillo / con que vamos a hacer el pan?
Diógenes- Faremos o pão da terra. Um dia vamos ser seu pão
N -Se alejarán en el otoño / las golondrinas de la luna?,
D- No outono as andorinhas / farão ninhos inaugurais /  no outro lado da lua
N- Por qué no dar uma medalla / a la primera hoja de oro?
D- Para não haver desdouro: o dourado despreza o ouro
Que tarde de encantamento!
De onde se encontra, o poeta chileno deve estar se indagando “Por que não fui à esquina do Brasil abraçar o poeta potiguar Cunha Lima?

Essa criativa montagem de palavras dos dois poetas me faz lembrar  Palavras Andantes de Eduardo Galeano, onde encontramos aquela senhora que recortava palavras de todos os tamanhos de jornais, guardando-as em caixas. Na vermelha, guardava as palavras furiosas, na verde, as palavras amantes. Na caixa azul, as neutras. Na amarela, as tristes. E numa caixa transparente, Madga Lemonnier deixava as palavras com magia. Ás vezes, Magda abre e vira as caixas sobre a mesa para que se misturem do jeito que quiserem. Assim, elas contam o que acontece hoje e o que acontecerá amanhã.

Também os dois poetas guardam a magia das palavras em caixas transparentes. São palavras encadeadas que exprimem a beleza combinada de ritmo, cadência, musicalidade, repetição de sons, alegria e leveza. A propósito, lembro esse verso de Virgílio na Eneida, que tive de decorar, aos 14 anos, no Seminário Santa Terezinha, em Mossoró. Ouçam a cadência:
"Quadrupedante putrem sonitu quatit ungula campum"
“Das patas com o bater em pó desfeito
Soa o chão com o tropel de quadrúpedes."
(A fonética do verso nos remete ao tropel dos cavalos correndo sobre um  chão pontilhado de pedrinhas).
Coisas que só encanto da poesia oferece.

Diógenes guarda fina sensibilidade para captar histórias, frases, passagens e climas. Pinço esse traço em “Câmara Cascudo, um Brasileiro Feliz”. Livro de memórias, escrito com alma e precisão. Que também me faz recordar a leveza da escrita, leveza que foi objeto de uma das Conferências que Ítalo Calvino preparou para fazer fez na Universidade Harvard, EUA, e que não pode fazê-lo por morrer antes da viagem. O texto está em Seis Propostas para o Próximo Milênio, magnífico e premiado livro.

Leveza que seleciona palavras adequadas, em ritmo que flui harmoniosamente entre si, estabelecendo um diferencial que  conquista o leitor, permitindo que este viva a sensação de suavidade que está sendo descrita.
Leveza que se apresenta nesses pedaços de versos
...e o céu envelopando sua queda num azul frágil
.... Afagava-a devagar, mas com a urgência de estilhaços
... A noite está fria e tiritam, azuis, os astros à distância
....Estava como que transpassado de vazios
... Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos.

Vejamos Diógenes captando a alma de Cascudo nesse testemunho:

- Num lugar inóspito, desabitado e estéril, um boi velho que puxara arado é mordido por uma jararaca. Sente que vai morrer e se arrasta até o pé da serra. Morre e é comido pelos bichos do céu e do chão. Vêm formigas e os vermes. As aves de rapina defecam em torno do cadáver sementes de fruteiras distantes. Aos poucos, o lugar se torna verde, cheio de vida. O boi velho (serei eu?), envenenado, cumpriu depois da morte sua função vivificadora.

Flagrando Cascudo fazendo uma confissão cheia de graça:

- Não se assombre,  em Natal eu sou o único pecador profissional. Os outros são amadores.

Ou como mestre de engraçadas cerimônias:

Levou (Cascudo) uma garrafa de cachaça, de primeira cabeçada para Paris. Se quisessem degustar a bebida, os amigos que moravam na França deveriam fazer fila no corredor do hotel, devidamente ajoelhados. Cumprida a exigência, Cascudo serviu a cachaça em cálice.

Meio assustado, o camareiro comentou:
- Criaram uma nova religião. E o seu bispo, muito estranho, é hóspede do hotel.
Vez ou outra, nosso escritor-poeta arremete a pena na direção do deboche, de onde retrata a alma (pecadora) de figuras do conturbado planeta político,  como aquela  que continua a atrair as massas por nossas plagas:

- Não posso fazer pantim
Sou limpo, imaculado,
Eu nunca estou em pecado
Tal candidato, em latim




FRASE DO DIA




É preciso saber viver.

ROBERTO CARLOS




DINHEIRO SEGUNDO DCL





Dinheiro só é problema quando se tem de mais ou de menos. Lembre-se de que dinheiro atrai dinheiro e dívida atrai dívida.





segunda-feira, 23 de outubro de 2017

NOVO LIVRO





ARGUEIRINHA 
(poesia,2017)
de Humberto Hermenegildo

Editora UFG, 76 páginas.



NOTÍCIAS VAGAS

Sombras do sítio:
verde e marrom de coentro e inhame
na prateleira.

Reclama ainda no fugaz passado
a branda sombra do imbujuazeiro.




CÂMARA CASCUDO EM ALEMÃO





DER EPISCHE ZYKLUS DER CANGACEIROS IN DER VOLKSPOESIE NORDOSTBRASILIENS
de Ronald Daus

Colloquium Verlag Berlin, 1969.










SENTENÇA DE TIRADENTES






A alma de Tiradentes foi proibida de ressuscitar!









domingo, 22 de outubro de 2017

DIREITO EM DIA: CONCURSADOS





Decisão nova. O STJ, na primeira turma, tendo sido relator Benedito Gonçalves, determinou a indenização por danos morais de concursos para vagas inexistentes ou aprovados não nomeados. Antes era normal.

A indenização ao concursado dá responsabilidade aos administradores em não criarem falsas expectativas. 




FRASE DO DIA





A grandeza do homem não é feita apenas do destino da espécie: cada indivíduo é um império. Sou qualquer coisa como o príncipe encantado.

ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY 




NOITE DOS MULTIPLICADORES

Flávio Rocha




A Academia Norte-rio-grandense de Letras (ANRL), fiel à sua missão de aglutinar talentos dedicados as grandes causas do espírito humano, promoveu a “Noite dos Multiplicadores” no sábado, 21 de outubro, a partir das 19h30, em sua sede (Rua Mipibu, 443, Petrópolis). Na ocasião, foi conferido o troféu Mecenas Potiguar e o Título de Benemérito às seguintes personalidades: Flávio Rocha, João Claudino, Marcelo Alecrim e Pedro Alcântara. Os homenageados são empresários dignos de distinção e memória. Foram saudados pelo jornalista Gaudêncio Torquato, Sócio de Honra da Academia. Completando o evento, apresentação do Conjunto de Cordas da cidade de Luís Gomes e da Banda de Música da Polícia Militar.

Há pessoas que nascem com a vocação para multiplicar. Valorizam a competência e dedicação, utilizando em seus empreendimentos a meritocracia. Infelizmente, no Brasil, não há uma cultura da filantropia, do mecenato. Tudo começou com Caio Mecenas, que viveu há dois mil anos e assessorou o Imperador Augusto. Por sua ação, floresceram as artes e a literatura em Roma. Dentre os beneficiários, situam-se Virgílio, Horácio, Ovídio e Tito Lívio. O seu nome virou qualificação. No Brasil, D. Pedro II foi um mecenas das ciências e das artes. Em nosso Rio Grande, são enaltecidos Alberto Maranhão, no setor público, e Juvino Barreto, na iniciativa privada.

OS HOMENAGEADOS

João Claudino Fernandes nasceu em Luís Gomes, no extremo oeste do Estado, fronteira com o Ceará e a Paraíba. Em sua cidade e na vizinha Uiraúna, criou e mantém duas fundações que promovem a cultura, a inclusão social e a ascensão coletiva. Graças ao seu empenho, um conjunto de cordas, formada por adolescentes de 12 a 18 anos, já se apresentou no Canadá e na Finlândia. Produz também a “Revista de Cultura”. Diretor-Presidente de Claudino S.A. - Lojas de Departamentos, com sede em Teresina-PI, com nome fantasia Armazém Paraíba, constituída por uma rede com mais de 195 lojas nos Estados do Piauí, Maranhão, Bahia, Pernambuco, Ceará e Tocantins.

O pernambucano Flávio Gurgel Rocha nasceu em Recife, em 1958. Formado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, é um dos diretores da empresa da família, a Guararapes, um dos 50 maiores grupos privados do país. Foi deputado federal pelo Rio Grande do Norte entre 1987 e 1995. Sua família é proprietária do Shopping Midway Mall.

Marcelo Alecrim, 51 anos, atua no setor de combustíveis há 33 anos. Ele é sócio-proprietário e presidente da ALE Combustíveis, 4ª maior distribuidora de combustível do Brasil segundo a “Revista Exame”. Natural de Natal, cursou administração na UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e fundou a Satélite Distribuidora de Petróleo em 1996, empresa que dez anos depois se uniu à empresa mineira ALE Combustíveis, criando a AleSat Combustíveis.

Pedro Alcântara Rego Lima é presidente do Grupo Três Corações (Café Santa Clara), empresa fundada por seu pai, João Alves de Lima, na década de 50, e que hoje se tornou a maior empresa de café do Brasil, espalhada por mais de cem mil pontos de venda por todo pais. Em 1988, ele trouxe para Mossoró a primeira filial do Café Santa Clara, firmando assim uma parceria de sucesso.

CONVIDADO ESPECIAL

Gaudêncio Torquato fez a saudação aos homenageados. Ele foi repórter, redator e editor nos principais veículos impressos brasileiros. Por mais de duas décadas escreveu, sempre aos domingos, para o jornal “O Estado de S. Paulo”. Agora, semanalmente, seus artigos são publicados no Blog do Noblat, do jornal “O Globo Online”, e em mais vinte periódicos pelo País. Além disso, assina a coluna “Porandubas Políticas”, do site “Migalhas”, especializado em notícias jurídicas. Equilibrando humor, contos da política regional e pitadas de acidez, noticia e analisa os bastidores da política nacional.