- pensou -, entre a dor e o nada, escolherei a dor.
WILLIAM FAULKNER
Palmeiras Selvagens
DIA
Pela sua mão levou-me o dia.
Aérea e dispersa eu dançava
Enquanto a luz azul se dividia.
Escuros e longos eram
Os corredores vazios
O chão brilhava e dormia.
E pela sua mão levou-me o dia.
O mapa na parede desenhava
Verde e cor-de-rosa a geografia:
Aérea e dispersa eu vivia
No colo das viagens que inventava.
Outro rosto nascia
No interior das horas
Prisioneiro e velado
Por incertas demoras.
Das páginas dos livros escorriam
Antigas e solenes histórias
Como um rio meu coração descia
O curso das memórias.
E pela sua mão levou-me o dia.
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
De "Mar novo".
INTERMEZZO
Eu tina esta alma toda iluminada
como as vilas fantásticas das eras
dos dragões, salamandras e quimeras
de um sonho remotíssimo de fala...
Eu tenho esta alma toda de tristezas
vestida, e luto e lágrimas e opalas...
— Porque os Degoladores de Princesas
por mim passaram para degolá-las...
CECÍLIA MEIRELES
EPÍGRAFE
Sou bem-nascido. Menino,
Fui, como os demais, feliz.
Depois, veio o mau destino
E fez de mim o que quis.
Veio o mau gênio da vida,
Rompeu em meu coração,
Levou tudo de vencida,
Rugiu como um furacão,
Turbou, partiu, abateu,
Queimou sem razão nem dó -
Ah, que dor!
Magoado e só,
- Só! - meu coração ardeu:
Ardeu em gritos dementes
Na sua paixão sombria...
E dessas horas ardentes
Ficou esta cinza fria.
- Esta pouca cinza fria.
MANUEL BANDEIRA
“É um livro que amo porque, apesar de sua aguda melancolia, está presente nele o prazer de viver”
PABLO NERUDA
Leila Cunha Lima é a nova presidente da Associação de
Procuradores do Estado (Aspern). A posse ocorrerá em março.
ENTARDECER
Enquanto balanço a rede
chega tua lembrança
Estás ao punho mas não me vês
E tua memória perdida
a tarde que resvala
não alcança
Por isso não falas quando te pergunto
o que queres desta vez
ou por que ao vento entregas a tua voz
que entre as árvores sussurra
o salmo da esperança
HORÁCIO PAIVA
O MAR de NATAL
para Diógenes da Cunha Lima
O mar que banha Natal
Diferente dos outros sete:
Parece mais uma criança
Que na areia se diverte
O que o mar de Natal
Dos demais é diferente:
Acaricia a cidade
Com a mão da mãe da gente
O que tem de outros mares?
A mesma água e o sal.
O que o faz diferente
É que ele banha Natal
Mas vez em quando saudoso
O mar que banha Natal
Traz ondas de espumas feitas
Com lágrimas de Portugal
Esperamos qu’ele um dia
Ouça o que a cidade pede
E nos traga em suas ondas
De volta Zila Mamede.
RACINE SANTOS
Natal, novembro, ano da pandemia