terça-feira, 29 de setembro de 2020

UMA CORTE CONSTITUCIONAL



Tudo começou com Prudente de Moraes e Ruy Barbosa, ao redigir a Constituição de 1891. Preocupados com o fim caótico do Império, e o início também caótico da República, decidiram recriar o Poder Moderador, até então exercido por Pedro II – que, com seu bom senso, garantiu estabilidade ao país naquela quadra histórica. Esse papel foi atribuído ao Supremo. Que, além de decidir questões da Constituição, passou, também, a ser instância revisora do Judiciário. O resultado é que a Suprema Corte dos Estados Unidos julga, por ano, 80 casos. Em 2019, França julgou 80. Alemanha, 82. Inglaterra, 90. Enquanto (CNJ) ano passado, em nosso Supremo, havia 93.197 processos para julgar. É insensato.


Uma das consequências péssimas desse acúmulo de processos é o excesso de decisões monocráticas. O Min. Facchin, no último senso disponível, julgou sozinho 8.820 casos em um ano. O Min. Moraes implantou a censura, reproduzindo a Ditadura, sem ouvir ninguém. Outros Ministros soltam todos os que caiam em suas mãos – amigos, empresários, políticos, traficantes, Deus e o Diabo. Uma compulsão a ser estudada. Em resumo temos, hoje, 11 Supremos. Fosse pouco, no Brasil, só se vai preso depois de 4 instâncias (5, com o Juiz de Instrução). O que não ocorre com nenhum dos 193 países da ONU, quando se dá em Primeira ou, no máximo, Segunda Instância. Um paraíso da impunidade que responde pelas montanhas de réus que deixam de cumprir penas pela prescrição. Especialmente nossa elite política – entre eles, mais recentes, Aécio, Gleisi, Jucá, Lindenberg, Renan.


Para brilhar, na Globo, ministros fazem até projetos de implantar o Parlamentarismo. E falam sobre qualquer assunto. “Tudo é vaidade”, ensina o Eclesiastes (1.2.). Fosse pouco, o Supremo se auto-outorgou, também, o papel de Poder Legislativo. E de Executivo. Proibindo, inclusive, nomeação de Ministros e Agentes Administrativos, redução de salários, emprego da Força Nacional, entrar em favelas, usar helicópteros nos morros. Em resumo o STJ deve, mesmo, ser última instância do Judiciário. Já é tempo de fazer como todos os demais países do planeta, senhores. Cabendo, ao Supremo, julgar tão somente ofensas à Constituição. Abandonando as decisões monocráticas e passando a ser, em palavras de Fux (novo Presidente do Supremo), só “Uma Corte eminentemente constitucional”. Por que não?, eis a questão.


JOSÉ PAULO CAVALCANTI FILHO

 

 



CENA URBANA










CONVITE NECROLÓGICO







CÂMARA CASCUDO E A LUA






quinta-feira, 24 de setembro de 2020

SANGRE DE TORO




Encontrado soneto de Pablo Neruda nas lembranças de uma amiga falecida. Versão de “Sangre de Toro”, datilografada e assinada pelo poeta chileno em 1965, estava escondida entre fotos antigas e cartas.

 

Robusto vino, tu familia

no llevaba diademas ni diamantes:

sangre y sudor pusieron en su frente

una rosa de púrpura fragante.

Se convirtió la rosa en toro urgente:

la sangre se hizo vino navegante

y el vino se hizo sangre diferente.

Bebamos esta rosa, caminante.

Vino de agricultura con abuelos,

de manos maltratadas y queridas,

toro con corazón de terciopelo.

Tu cornada mortal nos da la vida

y nos deja tendidos en el suelo

respirando y cantando por la herida.





A PONTE




A PONTE


Salto esculpido

sobre o vão

do espaço

em chão

de pedra e de aço

onde não

permaneço

                   ― passo.

 

ZILA MAMEDE





LYGIA E CLARICE


 



quarta-feira, 23 de setembro de 2020

EM TEMPO DE NAVA


 

No curta "Pedro Nava - em tempo de Nava", dos diretores Fernando Sabino e David Neves, alcançamos um breve perfil sobre o médico, artista plástico e escritor em lugares como sua casa e seu consultório.





PARTIDA




Quando eu me for

Poeira ou folha levada

No vento da madrugada

Serei um pouco do nada

 

MÁRIO QUINTANA




quinta-feira, 17 de setembro de 2020

MANUAL ESQUEMÁTICO DAS ELEIÇÕES



​Mais uma edição do “Manual Esquemático das Eleições”, tradicional livro que aborda as principais regras eleitorais para o pleito de 2020, será lançado em evento virtual, nesta próxima quinta-feira, dia 17/09, às 19h, com transmissão pelo youtube do canal do escritório de advocacia Erick Wilson Pereira.

O Manual, que a cada edição vem atingindo novos temas, é de autoria de Erick Wilson Pereira, Doutor em Direito Constitucional e experiente advogado da área eleitoral e desta vez conta com a coautoria dos advogados eleitoralistas Leonardo Palitot e Raffael Campelo. Temas imprescindíveis às eleições estarão contemplados na obra, que versará sobre o registro dos candidatos, a propaganda eleitoral, condutas vedadas, arrecadação de recursos e prestação de contas, além das principais datas do calendário eleitoral.

Durante o evento virtual, em que ocorrerá a exposição dos principais temas abordados na obra, será disponibilizado o link para que os expectadores possam baixar o Manual Esquemático das Eleições, que desta vez foi confeccionada em formato de e-book e será baixado em modo pdf.

A versão 2020 do Manual desponta como importante ferramenta de consulta para advogados, candidatos e demais participantes do pleito eleitoral, abordando de forma clara e objetiva os principais temas referente às eleições e já está todo atualizado com base nas novas e atuais regras para 2020.




NAVEGAÇÕES


 

NAVEGAÇÕES

de SOPHIA de MELLO BREYNER ANDRESEN




THOMAS MANN, CIDADÃO DO MUNDO




Em uma crônica passada, sob o título Júlia, a mãe de Thomas Mann, escrevi que esse grande escritor criou para o Brasil a alcunha de terra mátria.  Em 1943, Thomas Mann, ferrenho opositor ao nazismo, morava na Califórnia, exilado, quando enviou uma carta a Karl Lustig-Prean, intelectual austríaco incansável no combate à ideologia de Hitler, na qual fala do seu sangue latino-americano e, pela primeira vez, explica a alcunha dada ao Brasil:  “A perda da minha terra pátria (mein Vaterland) deveria constituir uma razão a mais para que eu conhecesse minha terra mátria (mein Mutterland).  Ainda chegará essa hora, espero”. Essa expressão de Thomas Mann, além do apelo afetivo em relação ao país onde nascera sua mãe, Júlia, tinha também uma conotação política, no tocante ao desgosto com a sua terra de origem, a Alemanha, à época, ainda sob o jugo hitlerista. Thomas Mann, sua esposa, Kátia, e seus filhos perderam a cidadania alemã, desde dezembro de 1936.

No posfácio do livro A Montanha Mágica, edição da Companhia das Letras (2016), o autor do texto, Paulo Astor Soethe, professor da UFPR, grande estudioso da obra de Thomas Mann e de Heinrich Mann, afirma que, na Alemanha, a família Mann tem para o país a mesma significância que os Kennedy têm para os Estados Unidos, e os Windsor para a Inglaterra.  E acrescenta:  “Desde a reunificação alemã, com fases menos e mais intensas, há naquele país o que a imprensa chama de mannomania”. De fato, entre os maiores escritores europeus do século 20, estão os irmãos Henrich Mann (1871-1950) e Thomas Mann (1875-1955), além de outros membros do clã que se destacam em alguma área da ciência, das artes e das letras.  Dos descendentes desses famosos nomes das letras, apresso-me em destacar o escritor Frido Mann, neto de Thomas, não somente pelo mérito literário, mas também pelo seu constante contato com o Brasil, desde a década de 1990.  Em julho passado, Frido completou 80 anos, nasceu e reside nos Estados Unidos, onde é professor e escritor.  Quando ele nasceu, Thomas Mann morava em Princeton e escreveu em seu diário:  “O primeiro neto, americano de nascimento, tem sangue alemão, brasileiro, judeu e suíço, o último por parte da minha avó.”

Thomas Mann exilou-se por muitos anos e, somente em 1944, tornou-se cidadão norte-americano. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1929 e, desde esse tempo, em face do crescimento do nacional-socialismo na Alemanha, já pensava no exílio, o que se efetivou a partir de 1933 – jamais voltou a residir em seu país de nascença –, com estadas na Lituânia, Suíça, França e Estados Unidos, com ênfase na América. Thomas Mann, em certa fase da vida, rejeitou a sociedade burguesa alemã, e passou a se sentir um estrangeiro em sua própria nação.  Seus ideais cosmopolitas condizem com um perfil humano de preclaro cidadão do mundo.


Daladier Pessoa Cunha Lima

Reitor do UNI-RN




terça-feira, 8 de setembro de 2020

POEMA DE DÁCIO GALVÃO





Aqui onde franceses
Corsários piratas
Atracaram respiraram
curaram tuberculoses
Traficaram pau de tinta
E redesenharam portulanos
As ondas reboam
Recodificam cartografias
Invadem currais marinhos
Cifrados em estacas
Pedras pretas
Solitárias tal qual o elefante-arrecife
De tromba decaída
Encravado na areia da praia
Locas lavadas
Águas invasivas
Se dividem com búzios sargaços  estrelas do mar
Murmurando segredos seculares De tribos ausentes segregadas
De peixes nas correntes caldeirões
De corais moluscos
Ressoando afogados num certo mar da história
Tudo sob o solar e o luar
de dias e noites intermináveis.



DÁCIO GALVÃO







MARTELO APAIXONADO








A DOR FORTALECE