terça-feira, 28 de abril de 2020

BALADA DE ARTE DA AGULHA





BALADA DE ARTE DA AGULHA
(Dedicado a Manoel Onofre Junior)


Diogenes da Cunha Lima


Maróca, Nina, Betinha
São irmãs na solidão,
Na quinta dos Cajuás,
Apascentam o irmão.

Solteirão compenetrado,
Governador do Estado,
Romancista, sedutor
Das irmãs, sempre a seu lado.

Tricotavam o dia inteiro
Quando o irmão se ausentava
Cantavam canções ligeiras
Ninando o “Neném” da casa.

Virgílio e Dante ouviam
Comédias de todo o dia,
Em bronze, nada falavam
Sonhando com Poesia.

O tempo tornou em sombras
Quatro vidas sem conflitos,
As irmãs de Antônio de Souza
Tricotam no infinito.






segunda-feira, 27 de abril de 2020

VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA





MANUEL BANDEIRA


Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.






DE AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA






Sobre PASÁRGADA de MANUEL BANDEIRA:
“Criou o não lugar”

Vendo PAOLO UCCELLO:
“Não me venham de Marcel Duchamp”






MISCIGENAÇÃO MENTAL







quarta-feira, 22 de abril de 2020

TUDO BEM QUANDO ACABA BEM




“Tudo o que se opõe à fantasia só serve para excitá-la”

“A honestidade é herdada, a bondade é adquirida”

“Os mortos tem direito à lamentação. Mas demorar a tristeza exaustiva é inimiga da vida”

“A todos ama. Confia-se em poucos. Não ofende ninguém”


WILLIAM SHAKESPEARE






O DESCOBRIMENTO DO BRASIL





A terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados. Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo.


PERO VAZ de CAMINHA
01 de Maio de 1500






quinta-feira, 16 de abril de 2020

MORREU RUBEM FONSECA





Autor de extensa obra com forte interesse pela violência urbana, a solidão e as idiossincrasias íntimas, sua maior atuação foi na escrita de contos. A antologia mais recente, "Carne crua", foi publicada em 2018, e neste gênero estão várias obras de destaque, como "A coleira do cão" (1965), "Feliz ano novo" (1975), e "O cobrador" (1979).

Como romancista, escreveu "Agosto", de 1990, em que retrata as conspirações que resultaram no suicídio de Getúlio Vargas. Em 2003 recebeu o Prêmio Camões e em 2015 o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto da obra. Rubem Fonseca sofreu um infarto neste 15 de abril de 2020, perto da hora do almoço, em seu apartamento, no Leblon.






A LITERATURA







PRETO & BRANCO





“Eu sou o branco mais preto do Brasil”

VINICIUS de MORAES






A CIDADE





“Não se sabia se uma cidade tinha sido feita para as pessoas ou as pessoas para a cidade”


CLARICE LISPECTOR






segunda-feira, 13 de abril de 2020

A FLOR DO MARACUJÁ





A FLOR DO MARACUJÁ

Catulo da Paixão Cearense


Encontrando-me com um sertanejo,
Perto de um pé de maracujá,
Eu lhe perguntei:
Diga-me caro sertanejo,
Porque razão nasce branca e roxa,
A flor do maracujá?

Ah, pois então eu lhi conto,
A estória que ouvi contá,
A razão pro que nasci branca i roxa,
A frô do maracujá.
Maracujá já foi branco,
Eu posso inté lhe ajurá,
Mais branco qui caridadi,
Mais brando do que o luá.

Quando a frô brotava nele,
Lá pros cunfim do sertão,
Maracujá parecia,
Um ninho de argodão.
Mais um dia, há muito tempo,
Num meis que inté num mi alembro,
Si foi maio, si foi junho,
Si foi janeiro ou dezembro.

Nosso sinhô Jesus Cristo,
Foi condenado a morrê,
Numa cruis crucificado,
Longe daqui como o quê,
Pregaro cristo a martelo,
E ao vê tamanha crueza,
A natureza inteirinha,
Pois-se a chorá di tristeza.

Chorava us campu,
As foia, as ribeira,
Sabiá tamém chorava,
Nos gaio a laranjera,
E havia junto da cruis,
Um pé de maracujá,
Carregadinho de frô,
Aos pé de nosso sinhô.

I o sangue de Jesus Cristo,
Sangui pisado de dô,
Nus pé du maracujá,
Tingia todas as frô,
Eis aqui seu moço,
A estória que eu vi contá,
A razão proque nasce branca i roxa,
A frô do maracujá




MEU REINO POR UM CAVALO