segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

A XANANA NA MESA


 



O DIREITO EM DIA: BOM SENSO


 

O ex-ministro Marco Aurélio Mello, de quem sou admirador antigo, ficou espantado com a decisão do ministro Alexandre de Moraes que determinou ao Presidente da República ir prestar depoimento na Polícia Federal.
 
Marco Aurélio deu uma lição de direito e bom senso. Por lei, o Presidente poderá ser ouvido por um juiz e combinarão dia, hora e local do depoimento, se ele resolver não fazer por escrito. Por fim, concluiu que o Presidente Jair Bolsonaro está sendo investigado, portanto pode se recusar a fazer provas contra si mesmo.
 
O ex-ministro não vê qualquer indicação de crime para uma investigação. O Presidente manifestou uma opinião, que é um direito constitucional seu, e por outro lado o caso é uma ficção do ministro relator, uma vez que nada havia de sigiloso.

Concluindo, recordo um antigo estadista francês, François Guizot, que disse certa vez: Quando a política penetra no recinto dos tribunais, a justiça se retira por alguma porta.




AS COISAS E O SENTIDO



“Não sou homem de inventar coisas, mas de contá-las. Seria preciso talvez dar-lhe um sentido, mas não encontro nenhum. As coisas, em geral, não têm sentido algum.”
 

RUBEM BRAGA
“Pescaria de Barco”




OS SERTÕES


 



quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

MÚLTIPLA

 

Quase sempre a crônica é íntima, uma relação pessoal entre autor e leitor. Como se fosse escrita para quem está lendo, como se só com ele o narrador pudesse se expor tanto. Ela é o espaço em que o escritor transita pelo cotidiano, opina, evoca, conta casos, traduz emoções, abre o coração. Na crônica cabe lirismo, humor, indignação, meditação. Sobre o exercício de escrever crônicas, o genial Carlos Drummond de Andrade disse: “Esse ofício de rabiscar sobre as coisas do tempo”. Tinha toda razão.

 
Há crônicas que são poemas em prosa, outras são pequenos contos ou pedaços da história. Nascida na imprensa, hoje se destaca em blogues. Falo tudo isso para recomendar “Múltipla”, novo livro Maria Elza Bezerra Cirne, uma seleção das melhores crônicas publicadas no seu blog desde 2019. Uma obra marcada pela singeleza e a precisão da narrativa. Evocações desde a infância, experiência de vida, os eleitos pela autora e suas circunstâncias. Uma bela criação.
    




segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

VIAGENS DE UM PÁSSARO SIDERAL

 

Parece que dormi:
nas minhas asas
descubro traços de sonho,
de um sonho feito de neve
de silêncio e de distância
que pouco a pouco será consumido
pela boca voraz de tanto azul.
Minha bagagem é o meu desejo
meu destino é uma estrela
há milênios extinta, porventura
minha desgraça é o meu canto
que já não ressoa mais
tão surda e tão gasta é
a concha do infinito.
Minha esperança, contudo,
é a mão de Aldebarã
que traça, talvez, no velho
portulano do azul
este rumo que eu invento.
Um consolo me ameiga o coração
saber que do meu voo se desprende
para a fome dos ventos siderais
vestígios de cordilheiras
tristezas de muitos mares
angústias de céus rasteiros
ternuras de antigos pousos
e, sobretudo, o áspero gosto de chão.
 
THIAGO de MELLO




R.I.P. THIAGO DE MELLO (1926 – 2022)

 


O poeta da floresta visitou duas vezes a cidade do Sol em dois séculos diferentes. Nos anos 1950 veio a convite de Odilon Ribeiro Coutinho, e em 2013 participou da programação do Dia Nacional da Poesia.
 
Em jantar na casa de Diogenes da Cunha Lima, na companhia dos casais Genibaldo e Lalinha Barros, Paulo de Tarso e Ana Maria, o poeta presenteou o anfitrião com um pôster que destacava o seu mais universal poema, “Estatuto do Homem”, que foi devidamente emoldurado e afixado na parede, e agora ilustra a coluna de hoje. No ofertório, pede ao “Diógenes meu companheiro, guarde a minha ternura”.
 
Saiu de lá prometendo traduzir para o espanhol o “Livro das Respostas” feito em homenagem ao seu dileto amigo chileno Pablo Neruda, e enamorado de uma fotografia com uma vitória-régia amazonense que Leila Cunha Lima capturou.
 
Jamais esquecido pelas instituições de cultura e nunca ignorado pelas novas gerações que ele inspirou, Thiago de Mello norteou a Bienal de São Paulo realizada ano passado no Ibirapuera, cujo título era o verso que faz 60 anos.
 

Texto de ALEX MEDEIROS


Diogenes, Leila, Isaura Rosado, Rosalba Ciarlini e Thiago de Mello




ELEVE SEU CORAÇÃO

 



segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

A FORÇA DOS SONHOS


 



ADEUS, LYA LUFT


 

Nasceu em Santa Cruz do Sul a 15 de setembro de 1938. É de 1964 o livro de poemas "Canções de Ninar". Em 1979 publica o livro de contos "Matéria do cotidiano". Depois vieram "As Parceiras" (1980), "A Asa esquerda do Anjo" (1981), "Reunião de Família" (1982), "O Quarto Fechado" (1984), "Exílio" (1987), entre outros.
 
Escreve crônicas (parte delas em vários meios, como o jornal "Correio do Povo" e a revista "Veja"), contos, ensaios e literatura infanto-juvenil. Traduziu autores de língua inglesa e alemã, entre eles, Virginia Woolf, Hermann Hesse e Thomas Mann. Morreu no dia 30 de dezembro de 2021 em Porto Alegre.




ILUSÕES E EXPERIÊNCIA


 

“As ilusões caem uma após outra, como as cascas de uma fruta, e a fruta é a experiência.”
 

UMBERTO ECO
“Seis Passeios pelos Bosques da Ficção”



AVENTURA


 

“Minhas intuições se tornam mais claras ao esforço de transpô-las em palavras. É neste sentido, pois, que escrever me é uma necessidade. De um lado, porque escrever é um modo de não mentir o sentimento (a transfiguração involuntária da imaginação é apenas um modo de chegar); de outro lado, escrevo pela incapacidade de entender, sem ser através do processo de escrever.”
 

CLARICE LISPECTOR,
“Aventura”, In: “Todas as crônicas”.