segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

VIAGENS DE UM PÁSSARO SIDERAL

 

Parece que dormi:
nas minhas asas
descubro traços de sonho,
de um sonho feito de neve
de silêncio e de distância
que pouco a pouco será consumido
pela boca voraz de tanto azul.
Minha bagagem é o meu desejo
meu destino é uma estrela
há milênios extinta, porventura
minha desgraça é o meu canto
que já não ressoa mais
tão surda e tão gasta é
a concha do infinito.
Minha esperança, contudo,
é a mão de Aldebarã
que traça, talvez, no velho
portulano do azul
este rumo que eu invento.
Um consolo me ameiga o coração
saber que do meu voo se desprende
para a fome dos ventos siderais
vestígios de cordilheiras
tristezas de muitos mares
angústias de céus rasteiros
ternuras de antigos pousos
e, sobretudo, o áspero gosto de chão.
 
THIAGO de MELLO




Nenhum comentário:

Postar um comentário