terça-feira, 25 de agosto de 2020

A UMA PASSANTE






A UMA PASSANTE


A rua em torno era um frenético alarido.
Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa,
Uma mulher passou, com sua mão suntuosa
Erguendo e sacudindo a barra do vestido.

Pernas de estátua, era-lhe a imagem nobre e fina.
Qual bizarro basbaque, afoito eu lhe bebia
No olhar, céu lívido onde aflora a ventania,
A doçura que envolve e o prazer que assassina.

Que luz… e a noite após! – Efêmera beldade
Cujos olhos me fazem nascer outra vez,
Não mais hei de te ver senão na eternidade?

Longe daqui! tarde demais! “nunca” talvez!
Pois de ti já me fui, de mim tu já fugiste,
Tu que eu teria amado, ó tu que bem o viste!


CHARLES BAUDELAIRE
Tradução de IVAN JUNQUEIRA






CONVITE







segunda-feira, 24 de agosto de 2020

OS DOIS JOAQUINS




Os dois Joaquins – Nabuco (1849-1910) e Maria Machado de Assis (1839-1908) – estabeleceram uma relação marcada pela admiração, respeito e afeto; além da afinidade nas áreas políticas e sociais. A convergência de ideias acerca da literatura nacional resultou na fundação da Academia Brasileira de Letras (ABL), em 1897, da qual Machado foi o primeiro presidente a Nabuco, o primeiro secretário-geral. A correspondência trocada entre ambos revela parte da história do Brasil do final do século XIX e início do século XX.






O HOMEM DE TODAS AS RUAS







NEGO DO BEIJA-FLOR







quinta-feira, 20 de agosto de 2020

REFLEXÕES SOBRE A COVID-19





O quadro O Triunfo da Morte encontra-se no Museu do Prado, em Madri-Espanha, pintado por volta de 1562, pelo  artista flamengo Pieter Bruegel, o Velho. Essa alcunha, o Velho, passou a uso corrente para distingui-lo do seu primogênito. Nasceu em Breda, nos Países Baixos, em 1525, e faleceu em Bruxelas, Bélgica, a 09 de setembro de 1569. Destacou-se por suas retratações de paisagens, numa época em que ganhava projeção as cenas religiosas. Sua obra de maior renome é O Triunfo da Morte, na qual Bruegel retrata a vitória da Morte sobre todas as coisas mundanas, sem distinguir qualquer condição. Até o rei surge na cena, a entregar o cetro e a coroa nas mãos da morte.  O quadro foi produzido quando as pestes se alastravam sem controle, e as guerras eram constantes e frequentes.

Por vezes, é a vida que imita a arte, outras vezes ocorre o oposto. No caso dessa obra, penso que a arte imitou a vida, a fim de retratar toda a crueza da morte, a ponto de causar impacto, pelo forte realismo que expressa. Uma obra produzida quase 500 anos atrás suscita alguma correlação com o enorme número de mortes pela Covid-19 em todo o mundo? Aquelas cenas de profunda tristeza que vimos na TV, as covas abertas em série, os veículos frigoríficos parados nas portas dos hospitais, relembram o quadro O Triunfo da Morte? Penso que sim, até como alerta de que nós seres humanos continuamos frágeis, apesar de todos os avanços, e que a terrível pandemia pelo novo coronavírus persiste ativa, ainda sem um tratamento globalmente aceito, e sem vacina para proteger contra novos contágios.  Restam-nos o isolamento social, o uso de máscaras e a higiene pessoal, até que venham as mudanças por todos esperadas.

Em algum lugar, li que as liturgias das grandes epidemias são sempre muito parecidas. As reações dos líderes, as crendices populares, o medo geral, muito se assemelham, apesar das épocas tão distintas. Ainda hoje, falamos em quarentena, que surgiu em Veneza, durante a Pestre Negra do século XIV. Um membro do clero sugeriu a restrição de circulação de pessoas, e escolheu 40 dias, conforme o Velho Testamento falava em relação ao isolamento em casos de lepra, e assim ficou até hoje.

Durante a Peste Bubônica, séculos atrás, as pessoas também se mantinham em casa, para não se contaminarem com os miasmas, que, na verdade, era a podridão vinda das ruas. Porém, as infecções se faziam pelas pulgas dos ratos, que infestavam as vias públicas, onde se jogavam os dejetos humanos. Quem não  leu ou não ouviu a expressão de que a atual pandemia é um castigo divino? Pois bem, esse mesmo temor já existia nas pandemias da Idade Média. Mas as crendices e as receitas caseiras podem também trazer benesses. Segundo consta, na Gripe de 1918, em São Paulo, espalhou-se que a mistura de mel, limão  e cachaça  curava a virose. Estava criada, então, a bendita caipirinha.

Daladier Pessoa Cunha Lima
Reitor do UNI-RN






segunda-feira, 17 de agosto de 2020

DOIS POEMAS DE SÉRGIO CASTRO PINTO





(01)

O Paraíba, o Mamanguape,
O Tigre, o Eufrades,
O Tejo, o Sena

Não desviam o curso do poema



(02)

O poema nenhum rio
ou cidade o fazem
só o poema à margem do lápis

o caniço pensante
na maré vazante da linguagem







FOTOS, FAUNA, FLORA







sexta-feira, 14 de agosto de 2020

MACHADO DE ASSIS, ADVOGADO?





O que penso ninguém sabe é que, por muitos anos, estudei as leis. Todas as noites. Apaixonadamente. A ponto de, imagino, estar habilitado a tornar-me advogado. Por essa razão, em minhas obras, empreguei numerosíssimas expressões jurídicas. No conto O Programa um personagem, Romualdo, até antecipa essa vontade ao sonhar “que seria citado algum dia entre os Nabucos, os Zacarias, os Teixeiras de Freitas, etc. Jurisconsultos”. Era de mim que falava. Meu maior desejo é que, no futuro, alguém me faça justiça. Algum advogado, talvez, que o perceba. Isso me causaria grande alegria. E, se assim for, serei sempre grato a ele.



Fragmento de crônica de JOSÉ PAULO CAVALCANTI FILHO






segunda-feira, 10 de agosto de 2020

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

ENTRE O LÍRIO E O DELÍRIO




eu, pecador, dado a desvarios
libertino,  livre de culpas, pretérito
imperfeito, indeciso entre a solidão e a multidão
entre o lírio e o delírio
tive a visão perfeita de uma revoada de anjos.


NEI LEANDRO de CASTRO