quarta-feira, 30 de junho de 2021

SOBRE “UM PRÍNCIPE NO INFERNO”

 


“A ironia, Mestre Diógenes, é que os originais da divina “ Comédia “ estão nos arquivos secretos do Vaticano. Eu os folheei, alisando as páginas com emoção. O exemplar tem uma capa sugeria, para a obra, por Boticelli. Adiro a sua tese, de que seja absolvido. Abraços do devoto,   José Paulo.”

 

JOSÉ PAULO CAVALCANTI




segunda-feira, 21 de junho de 2021

MUDAM-SE OS TEMPOS


 


MUDAM-SE OS TEMPOS

 

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

muda-se o ser, muda-se a confiança;

todo o Mundo é composto de mudança,

tomando sempre novas qualidades.

 

Continuamente vemos novidades,

diferentes em tudo da esperança;

do mal ficam as mágoas na lembrança,

e do bem (se algum houve), as saudades.

 

O tempo cobre o chão de verde manto,

que já coberto foi de neve fria,

e, enfim, converte em choro o doce canto.

 

E, afora este mudar-se cada dia,

outra mudança faz de mor espanto,

que não se muda já como soía.

 

LUÍS VAZ DE CAMÕES

 




A CIDADE DA MÚSICA


 



SELO TONHECA DANTAS

 


Lançamento do Selo em Comemoração ao Sesquicentenário Tonheca Dantas com a participação da Filarmônica Onze de Dezembro. Carnaúba dos Dantas (RN), 13 de junho de 2021.









quinta-feira, 10 de junho de 2021

TERRA, VIDA, OBRA E MORTE DE UM MÚSICO

 

 

CARNAÚBA é um pequeno povoado do município de Acari. Distendem-se numa planície extensa, olhos eternamente voltados para o Morro do Cruzeiro, numa atitude estática de fé e numa homenagem reverente de devoção à capelinha e a Cruz fincada na crista da elevação sertaneja.
 
Conheci-o, assim, numa manhã de sol esplêndido que banhava os telhados chatos das casas humildes, invadindo-as num esbanjamento de luz.
 
Antes, porém, já conhecia a terra e a gente através dos pistões altissonantes, dos clarinetes ágeis, das trompas afinados, dos saxofones sonoros que ali encontravam os melhores executores, berço ignorado de músicos famosos, que saindo da terra pareciam trazer nos seus instrumentos as modulações dos pássaros sertanejos.
 
ANTÔNIO PEDRO DANTAS TONHECA, professor de emoção e de arte, a nascer no Rio Grande do Norte, só deveria mesmo nascer em Carnaúba. A terra parece esconder um segredo, uma intuição misteriosa e única para os filhos. Umas, dão poetas. Outras jornalistas. Algumas, juristas. Carnaúba, perdido no sertão seridoense, venido diante da altivez do morro altaneiro, concede aos que nascem sob o seu céu amoroso e límpido, o mistério das harmonias, sugestão dos ouvidos e encantamento das almas.
 
Escondida numa choupana pobre, nascia em 1871, mal saído o sol, uma criança morena-clara, olhos castanhos, cabelos escassos sorrindo para a Vida enquanto ela não lhe mostrava a amargura das lágrimas.
 
Esse menino, nascido à hora em que acordavam os passarinhos, cresceu, ficou homem e foi Tonheca, simplesmente Tonheca, guardando na existência humilde, a eternidade daquela hora porque sempre ela se repetiu nas criações imortais de sua alma de artista.
Quantos dramas, porém, não se desenrolariam no palco intimo de sua vida simples, ignorados por todos, longe de conhecer as privações, as canseiras morais, as alegrias, as glórias, as desilusões, misturadas, instante a instante numa continuidade desconcertante e trágica!
 
A obra é reflexo da Vida. E a obra de Tonheca, tão farta que é difícil identifica-la, transmite-nos todas estas impressões especialmente agora que a Morte cerrou os seus olhos para abri-los do outro lado da Vida.
 
Ele experimentou, quando na mocidade, toda a inquietação dos grandes espíritos. Percorreu vários Estados. Foi regente da banda da Força Pública do Pará, do Regimento Policial da Paraíba, e no princípio deste século, dirigiu a banda da Força Policial do nosso Estado.
 
Compositor exímio e fecundo, deixou espalhada uma infinidade de composições, fazendo parte de várias companhias líricas, em obediência ao seu destino que a pobreza nunca permitiu certo e definitivo.
 
Além disto, regeu diversas bandas de música no interior, ensinando-lhes os primeiros acordes, ensaiando-as para a Vida quieta, cial.
 
Nenhum compositor norte-rio-grandense, no desempenho de tão relevante função social, pode até agora, supera-lo em número e em beleza de composições. A Escola Normal da cidade deve guardar ainda 240 trabalhos de sua autoria, apresentados quando de um concurso na cadeira de música daquele estabelecimento.
 
Muitas venceram as nossas fronteiras. “Royal Cinema” e “Delírio” tocam-se, hoje, como já foram tocadas na Alemanha.
 
Outras, igualmente bonitas, poderiam citar, “Melodia do Bosque” é uma fantasia composta num jardim público, ao lado de uma igreja. Traduz todo o encanto da paisagem, movimentada pelo valor humano, com as pessoas que buscavam o templo na ânsia incontida da prece. Destaca o trinado das aves madrugadoras, formando, em tudo, emoções contínuas e inesquecíveis.
 
Obrigada quase toda a solo de clarinete, tem uma cada (final) dificílima, exigindo agilidade extrema. Executada pelo autor era uma joia maravilhosa de sentimento, de arte e de música. “Boas festas” é uma grande valsa, composta nas alegrias de um Natal festivo, mas com a lembrança acentuadamente triste de um Natal pobre, sem brinquedos e sem conforto.
 
E, então, em “Delírio” e “Royal Cinema”, Tonheca atingiu distâncias raras e obstinadas. Esta é a peça consagradora do seu nome, evocando em acordes sonoros toda a tristeza da nossa raça, o farfalhar dos nossos arvoredos, a tragédia das nossas terras, valsa cheia de gemidos, de suspiros, de realidade e de vida.
 
Em todas elas, está a marca inconfundível do autor, glória que pede glorificadores, nome obscuro que pede palmas e implora bênçãos.
ANTÔNIO PEDRO DANTAS TONHECA, nascido em 1871, passou ao anonimato da morte a 7 de fevereiro de 1940, com 68 anos de idade.
 
Casou duas vezes, deixando desses matrimônios onze filhos, um dos quais, por curiosa coincidência, é músico da Força Policial e tem o nome do Pai.
 
Na sua terra, que mais lhe devia foi funcionário do Tesouro, regente da banda do antigo Batalhão de Segurança, e por fim soldado-músico, sem patentes, senão as dos aplausos públicos ao seu grande talento.
 
Vida, assim, tão simples, sem história e sem renome, teria de ser vida pobre, de quase penúria, sem o descanso justificável pela saúde precária e pela velhice impiedosa. Nunca passaria, pela uniformidade dos seus detalhes, de simples caminhada para Morte calma e silenciosa.
 
Dias antes de fechar os olhos no sono derradeiro, vi Tonheca, metido numa velha farda policial, olhos quase apagados, corpo inclinado para o chão como se não pudesse mais com o peso da vida.
 
Fazia marcha diária que todos nós fazemos para o nosso calvário, silencioso, triste, mas com a certeza de ter deixado o nome imortalizado por um imperativo de arte, de coração e de inteligência.
 
A 7 de fevereiro, sem juntas médicas, sem corpos de enfermeiros, sem aglomerações populares, morria calmamente. A última testemunha de sua existência, por um simbolismo encantador, finou-se com ele: a vela humilde, clarão de fé, grito aceso de esperança, pendente de suas mãos pálidas do ultimo esforço.
 
ANTÔNIO PEDRO DANTAS TONHECA – De onde estiveres, não maldigas nunca o teu destino incerto, a tua vida cheia de contrastes. Contrastes da pobreza do teu lar com a riqueza do teu talento, da fecundidade da tua alma com a ingratidão dos que te esqueceram. Ela humilde, que conservando um nome foi, em tudo o retrato do teu berço que lembra palmas agitadas para o céu, linha altaneira e invencível, vive achatada na planície, olhando para cima com a timidez com que a criança contempla a montanha maciça e elevada.
 
Abençoa-a assim, porque te concedeu aventura de identificação com a terra, ela e tu, retrato único de uma mesma grandeza cercada pelo esplendor de uma mesma luz.
 

ALUÍZIO ALVES

Pesquisa  realizada pela Musicóloga e Acadêmica Leide Câmara, pela ocasião dos 150 anos de nascimento de Tonheca Dantas (1871-1940), Patrono da cadeira 33,  e na ocasião dos  100 anos  de nascimento do Acadêmico Aluízio Alves ( 1921-2021),  Sucessor 1 da cadeira 17 da ANRL. 

Fonte: “A VOZ DA CASERNA” – Boletim mensal da Sociedade Beneficente dos Sargentos da Força Policial do Estado do Rio Grande do Norte, matéria publicada incompleta,  no Boletim  Ano I - Junho de 1940 -   Número I,  Página 4  e no  Ano II – Março de 1941 – Número 3, Página 5, a matéria foi publicada completa.




GUIMARÃES ROSA NA ABL


 

João Guimarães Rosa participa de almoço com colegas da Academia Brasileira de Letras alguns dias após ser eleito para a cadeira anteriormente ocupada por seu ex-chefe no Itamaraty, João Neves da Fontoura. 14 de agosto de 1963. 




ESCRITORES EM SANTIAGO DO CHILE



Jorge Amado, Diego Rivera, Pablo Neruda e Zélia Gattai 

em Santiago do Chile, 1953.





segunda-feira, 7 de junho de 2021

A ESCRITA SEGUNDO MARGUERITE DURAS



A escrita é o desconhecido de si, de sua cabeça, de seu corpo. Não é uma reflexão, escrever, é uma espécie de faculdade ao lado de sua pessoa, paralelamente a ela mesma, de uma outra pessoa que aparece e que avança, invisível, dotada de pensamento, de cólera, e que algumas vezes, por isso mesmo, é um perigo, de perder aí sua vida.

 

MARGUERITE DURAS

 




A INOCÊNCIA de DANTE ALIGHIERI


 

Há mais de 700 anos Dante Alighieri foi condenado à morte; agora, um descendente do autor busca pela revisão da pena e inocência do escritor. A notícia está na imprensa italiana. Ao “Corriere Della Sera”, o astrofísico Sperello di Serego Alighieri, disse que garantir a anulação da pena do seu antepassado é uma necessidade de reparação, seguindo o que aconteceu a outros condenados históricos, como Galileu Galilei.




A VIDA




A vida é sempre mais rica do que qualquer romance.

STEFAN ZWEIG




A VIDA, BREVA E BELA