quarta-feira, 30 de agosto de 2017

A SAGA DE JARARACA










CLARA CAMARÃO










TECELÃS / TEJEDORAS




TECELÃS
de Rizolete Fernandes


Mergulhar, até o fim, em um livro é muito prazeroso. Ainda mais prazeroso do que isso, entretanto, é, depois do mergulho, compartilhar impressões com quem teve a mesma experiência. É uma satisfação conversar sobre aquele livro que nos impactou, seus personagens e passagens marcantes. Mas essa não é uma experiência que ocorre muito facilmente. É preciso amar a literatura. É preciso encontrar leitores. É preciso falar sobre livros.

Pois é exatamente isso que aconteceu comigo ao terminar de ler “Tecelãs / Tejedoras”, de Rizolete Fernandes. Deu vontade de sair trocando impressões sobre esse bonito livro. Como em quase todas as atividades, o mercado editorial também é predominantemente dominado por nomes masculinos, ainda que essa realidade esteja mudando aos poucos. É preciso contribuir para que mais autoras sejam conhecidas e apreciadas. Não cabe aqui uma análise dos motivos pelos quais, também na literatura, a voz feminina tem menos ressonância, mas cabe o excelente registro de que o livro de Rizolete é uma iniciativa louvável e muito exitosa.

Ancorada em pesquisa e experiência prévia da autora, o livro joga luz sobre vários aspectos da vida de vinte ficcionistas, poetas, artistas, religiosas: deslocamento, amor, solidão, fé, a partir dessa experiência. Contada em edição bilíngue (português/espanhol), a narrativa é abundante em sutilezas de interpretação, intertextualidade e referências cruzadas, brilhando nomes como Emily Dickinson, poetisa americana que viveu de 1830 a 1886; a feministas francesa Simone de Beauvoir; a compositora Chiquinha Gonzaga; a chilena Gabriela Mistral; a nossa Auta de Souza; e outras.

No momento em que está em pauta o espaço da mulher em várias esferas da sociedade, recomendo fortemente essa leitura. A experiência é gratificante. Cada escritora tem sua especificidade, mas, claramente, essas escritoras brilham diante da força do trabalho em conjunto. Chama atenção o suporte e a solidariedade da abordagem feminina na literatura. Amigos, elas têm muito a nos ensinar. Aproveitando o gancho, fecho com um poema de poetisas.





quarta-feira, 23 de agosto de 2017

FRASE DO DIA




A amizade é o melhor parentesco.

DOM FRANCISCO MANOEL DE MELO




VOCÊ SABIA...

 



Que a maior base aérea americana, fora dos Estados Unidos, durante a II Guerra Mundial, foi instalada em Parnamirim, área metropolitana de Natal, aonde chegaram a pousar e donde decolaram cerca de 700 aviões dia?

(Mas agora somos de paz, amor e turismo!)





terça-feira, 22 de agosto de 2017

TRADUÇÃO PRIMOROSA





Não foi por coincidência que o escrivão-mor Pero Vaz de Caminha estava na frota de Pedro Álvares Cabral quando este descobriu o Brasil em 1500. Dono de um estilo empolado, contudo observador, perspicaz e minucioso, ele pôde transmitir ao rei que o nomeara escrivão-mor de Calicute toda a grandeza e a graça das terras recém-descobertas. O bom Caminha esmerou-se em dar ao monarca algo mais do que uma fria e técnica notícia de “achamento”, apresentou algo mais do que um mero roteiro de viagem. Caprichou nas descrições e deu-nos um verdadeiro retrato vivo da terra que surgia virginal do mar. Nesta edição da SESI-SP editora, tradução primorosa de Ivo Barroso para o português moderno.




NOVO LIVRO DE IVES GANDRA





Eu sempre fui um menino,
que não queria crescer,
pensando ser meu destino
mais sonhar do que viver.





CASCUDO DANTISTA





Os dantistas não estão apenas na Itália, mas também na Inglaterra – em grande número e quantidade – e em todo o mundo. Luís da Câmara Cascudo passou meses estudando o dialeto toscano para escrever o seu monumental “Dante Alighieri e a Tradição Popular no Brasil”. Publicou numa editora do Rio Grande do Sul para atingir os descendentes de italianos. Na segunda edição, convidou meu amigo Franco Jasiello para prefaciá-la. Resultou em um belo trabalho. Nascido em Roma e natalizado, Jasiello foi professor de arte da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.




segunda-feira, 21 de agosto de 2017

DRUMMOND





CONSOLO NA PRAIA


Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado, devias
precipitar-te – de vez – nas águas.
Estás nu na areia, no vento…
Dorme, meu filho.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE




O POETA E A BIBLIOTECA




O importante, pois, é seguir a vida, e beneficiar-se do que orienta o poeta popular mossoroense Antônio Francisco: “Abrace letra por letra / sem descansar um segundo / e deixe a biblioteca / muito mais sábio e profundo”.




BIBLIOTECAS




Fui ver com meus olhos a biblioteca de Celso, consumida pelo fogo em 260 d.C, em Éfeso na Anatólia da Turquia. Impressiona a bela fachada restaurada. Desperta a imaginação, ver uma cidade em que teria morado Nossa Senhora após a morte de Jesus.

A mais significativa entre nós é a biblioteca Nacional. Possui 15 milhões de títulos e muitas preciosidades como a Bíblia de Mogúncia (Mainz), o primeiro livro impresso (1462) e a primeira edição de “Os Lusíadas” (1572). Entre os documentos está o original da sentença que condenou Tiradentes à morte. Estou buscando uma cópia, porque soube que ela conteria, além da condenação terrível de esquartejamento e exposição dos seus restos mortais, a proibição da sua alma sobreviver.




ENTREVISTANDO ORMUZ SIMONETTI








sexta-feira, 18 de agosto de 2017

MENSAGEM DE OBAMA





Mensagem do ex-presidente Barack Obama, que cita trecho de uma entrevista de Nelson Mandela, vem fazendo grande sucesso no mundo:

"Ninguém nasce odiando outra pessoa em razão da cor da pele, cultura ou religião. As pessoas precisam aprender a odiar, e se elas podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar".




TÍTULO PROIBIDO




A caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Nordeste teve início com um revés. O juiz Evandro Reis, da 10ª Vara Federal Cível da Bahia, concedeu liminar que suspende solenidade marcada para sexta-feira (18) em que a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) entregaria a Lula o título de doutor honoris causa. 

A decisão ocorreu em resposta à ação popular movida pelo líder do DEM na Câmara Municipal de Salvador, vereador Alexandre Aleluia. O juiz Evandro Reis determinou que a Polícia Federal esteja no local onde seria realizado o ato para garantir que a decisão seja cumprida. 

“Lula não merece título, merece sentença para cumprir pena", disse o vereador Alexandre Aleluia. 



FRASE DO DIA





Quem tem fama não se deite na lama.

DCL





30 ANOS SEM DRUMMOND





CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
(Itabira, Minas Gerais. 1902-1987)


O padre furtou a moça, fugiu
Pedras caem no padre, deslizam
A moça grudou no padre, vira sombra,
aragem matinal soprando no padre.
Ninguém prende aqueles dois,
Aquele um
Negro amor de rendas brancas.
Lá vai o padre,
atravessa o Piauí, lá vai o padre,
bispos correm atrás, lá vai o padre,
lá vai o padre lá vai o padre lá vai o padre,
diabo em forma de gente, sagrado.

Na capela ficou a ausência do padre
E celebra a missa dentro do arcaz.
Longe o padre vai celebrando vai cantando
todo amor é o amor e ninguém sabe
onde Deus acaba e recomeça.





MISSA EM HOMENAGEM A PAULO BALÁ





Quinta-feira (17), às 19h, na Igreja de Santa Terezinha, no Tirol, foi celebrada a missa do 30 dia do falecimento do escritor, médico e acadêmico Paulo Bezerra, conhecido como Paulo Balá. Missa celebrada pelos padres acadêmicos João Medeiros e José Mário. Belíssimas mensagens. Da homilia do Padre Zé Mário, resgatei a frase: "A saudade é a presença dos ausentes".




terça-feira, 15 de agosto de 2017

UMA VIDA LONGA





O médico japonês Shigeaki Hinohara, que atendeu cliente até os 105 anos, compartilha 12 de seus princípios para uma vida longa e boa.

1. COMA DIREITO

“Todo mundo que vive uma longa vida, independentemente de nacionalidade, raça ou gênero, dividem uma coisa em comum: ninguém é acima do peso”.

2. NÃO PEGUE ATALHOS

“Para permanecer saudável, sempre suba de escadas e carregue suas próprias coisas. Eu subo de dois em dois degraus, para exercitar meus músculos”

3. REDESCUBRA SUA ENERGIA JUVENIL

“Energia vem de sentir-se bem, não de comer bem ou dormir muito. Todos nos lembramos quando éramos crianças e estávamos nos divertindo, como esquecíamos de comer ou dormir. Eu acredito que podemos manter essa atitude enquanto adultos. É melhor não cansar o corpo com regras demais como hora de comer e hora de dormir”.

4. MANTENHA-SE OCUPADO

“Sempre se planeje com antecedência. Minha agenda já está completa pelos próximos cinco anos, com palestras e meu trabalho usual, no hospital.”

5. MANTENHA-SE TRABALHANDO

“Não há necessidade de se aposentar jamais, mas se for preciso, deve ser bem mais tarde do que aos 65 anos. Cinquenta anos atrás, haviam somente 125 japoneses com mais de 100 anos. Hoje, são mais de 36 mil”.

6. SIGA CONTRIBUINDO COM A SOCIEDADE

“Depois de uma certa idade, devemos nos esforçar para contribuir com a sociedade. Desde os 65 anos que trabalho como voluntário. Eu ainda trabalho 18 horas, 7 dias por semana e amo cada minuto”.

7. ESPALHE SEU CONHECIMENTO

“Divida o que você sabe. Eu dou 150 palestras por ano, algumas para 100 crianças do ensino médio, outras para 4.500 empresários. Eu normalmente falo por uma hora, uma hora e meia, de pé, para permanecer forte”.

8. ENTENDA O VALOR DE DIFERENTES DISCIPLINAS

“A ciência sozinha não consegue curar ou ajudar as pessoas. A ciência nos trata a todos como uma coisa só, mas as doenças são individuais. Cada pessoa é única, e as doenças estão conectadas com seus corações. Para entender as doenças e ajudar as pessoas, precisamos de artes livres e visuais, não somente de medicina”.

9. SIGA SEUS INSTINTOS

“Ao contrário do que se imagine, os médicos não conseguem curar tudo e todos. Então pra quê causar uma dor desnecessária com, por exemplo, uma cirurgia, em certos casos? Eu acho que a música e a terapia animal podem ajudar pessoas mais do que os médicos imaginam”

10. RESISTA AO MATERIALISMO

“Não enlouqueça pelo acúmulo de coisas materiais. Lembre-se: você não sabe quando será sua vez, e nós não levaremos nada daqui”.

11. TENHA MODELOS DE VIDA E INSPIRAÇÕES

“Encontre alguém que te inspire para procurar ir ainda mais longe. Meu pai veio para os EUA estudar em 1900, foi um pioneiro e um dos meus heróis. Mais tarde encontrei outros guias de vida, e quando me sinto paralisado, me pergunto como eles lidariam com o problema”.

12. NÃO SUBESTIME O PODER DA DIVERSÃO

“A dor é algo misterioso, e divertir-se é a melhor maneira de esquecê-la. Se uma criança está com dor de dentes e você começa a brincar com ela, ela imediatamente esquece a dor. Hospitais precisam oferecer as necessidades básicas dos pacientes: nós todos queremos nos divertir. No St. Luke’s [hospital que dirigiu e trabalhou até o fim da vida] nós temos música, terapia animal e aulas de arte”.




FRASE DO DIA





Triunfo das igualdades: a máquina de lavar misturando intimidades.

RONALDO CUNHA LIMA




FEIJOADA DE VINICIUS





FEIJOADA À MINHA MODA

Amiga Helena Sangirardi
Conforme um dia eu prometi
Onde, confesso que esqueci
E embora – perdoe – tão tarde

(Melhor do que nunca!) este poeta
Segundo manda a boa ética
Envia-lhe a receita (poética)
De sua feijoada completa.

Em atenção ao adiantado
Da hora em que abrimos o olho
O feijão deve, já catado
Nos esperar, feliz, de molho

E a cozinheira, por respeito
À nossa mestria na arte
Já deve ter tacado peito
E preparado e posto à parte

Os elementos componentes
De um saboroso refogado
Tais: cebolas, tomates, dentes
De alho – e o que mais for azado

Tudo picado desde cedo
De feição a sempre evitar
Qualquer contato mais... vulgar
Às nossas nobres mãos de aedo

Enquanto nós a dar uns toques
No que não nos seja a contento
Vigiaremos o cozimento
Tomando o nosso uísque on the rocks.

Uma vez cozido o feijão
(Umas quatro horas, fogo médio)
Nós, bocejando o nosso tédio
Nos chegaremos ao fogão

E em elegante curvatura:
Um pé adiante e o braço às costas
Provaremos a rica negrura
Por onde devem boiar postas

De carne-seca suculenta
Gordos paios, nédio toucinho
(Nunca orelhas de bacorinho
Que a tornam em excesso opulenta!)

E – atenção! – segredo modesto
Mas meu, no tocante à feijoada:
Uma língua fresca pelada
Posta a cozer com todo o resto.

Feito o quê, retire-se caroço
Bastante, que bem amassado
Junta-se ao belo refogado
De modo a ter-se um molho grosso

Que vai de volta ao caldeirão
No qual o poeta, em bom agouro
Deve esparzir folhas de louro
Com um gesto clássico e pagão.

VINICIUS DE MORAES