quinta-feira, 30 de julho de 2020

O SORRISO DOS PAPAS




“Os papas tem um sorriso meramente labial. Desmentido pelo olhar frio e grave.”


LUÍS da CÂMARA CASCUDO






RECORDANDO ZÉ AREIAS




O satírico potiguar Zé Areias, gordão e popular, certa vez foi louvado no restaurante “Peixada da Comadre” por defender uma mulher-dama. Na hora, ele soltou:

“Embora tudo aconteça
De valente não me gabo
Do peixe quero a cabeça
Da mulher prefiro o rabo.”





quarta-feira, 29 de julho de 2020

NOSSA CIDADE NATAL




Natal nasceu cidade. Nunca foi arrabalde, vila, aglomeração. Nasceu no dia do nascimento de Cristo, daí o seu nome. Tem uma história simples, porque foi mais uma designação política ao seu nascimento do que uma necessidade topográfica. Assim, tem uma história simples e emocional.

A sua paisagem garante a imutabilidade do afeto. De um lado, o rio perene; do outro, a cinta dos morros verdes que até 1915 eram completamente desertos.

Na minha meninice, Natal era uma cidade de 30 mil habitantes, iluminada por 90 candeeiros de querosene, sem transportes, dividida em dois grandes bairros; a Cidade Alta e a Cidade Baixa, ou seja, a Cidade Alta e a Ribeira. Os habitantes da Cidade Alta eram os xarias, os moradores da Cidade Baixa eram os canguleiros. Eu sou canguleiro.
Como ainda pertenço ao século XIX, sou testemunha do desenvolvimento muito rápido da cidade, especialmente depois de 1930, quando foi chamada de “Cais da Europa”. Natal era o ponto mais perto do continente europeu, daí a necessidade militar de defendê-la. Povoou-se de soldados, marinheiros e aviadores. Nessa época estavam por aqui Gustavo Cordeiro de Faria, no Exército; Ari Parreiras, na Marinha; Eduardo Gomes, na Aeronáutica.

Mas em 1911 já tinha luz elétrica, telefone, bondes elétricos e oito bondes puxados a burro.

A cidade foi se multiplicando com duas escolas, três, hoje, uma Universidade com 50 cursos povoam-na de uma euforia de conhecimentos. Logo em Lagoa Nova, onde eu caçava nambus com Flaubert, quando não havia nada naquela zona.

Natal. Chamo-a Noiva do Sol, cidade sem tempestades. Cidade clara e simpática.

Monteiro Lobato me dizia: “Sua felicidade é ter nascido numa cidade pequena, que cresceu com você, e daí o seu amor”. Quem nasce numa cidade grande, como o Rio de Janeiro, Paris, Londres, Berlim, não pode ter uma recordação como quem tem numa cidade pequena. Os lugares onde dancei, hoje são arranha-céus. O lugar mais alto de Natal, o ponto mais alto do meu tempo, era a Torre da Matriz, onde eu via o alvissareiro com as bandeirinhas azul e vermelha avisando a vinda dos navios do Norte e do Sul.

Natal, Noiva do Sol, minha cidade querida, deu-me o sempre esperei: a tranquilidade do espírito, a paz do coração, o amor pelas coisas humildes do mundo, no meio das quais sempre vivi. Por amor à cidade, eu nada quis ser. Nem mesmo Senador, como Getúlio Vargas me queria fazer. Nem Reitor da Universidade de Brasília, como Juscelino Kubistchek pensava.

Fiquei em Natal, só, pobre e feliz. Sou o que Diógenes da Cunha Lima me chamou: um brasileiro feliz.”


LUÍS DA CÂMARA CASCUDO





DESAPEGO




DESAPEGO


Sairei mundo afora dizendo adeus.
Não que eu sinta a morte próxima.
Preciso é livrar-me dos excessos.

Direi adeus à minha própria casa,
que de tão grande não me reconhece.
Incomoda-me ver tantos cômodos,
por tanto tempo, sem qualquer uso.

Adeus às estantes repletas de livros,
muitos nunca foram sequer abertos.
Trocarei todos por simples sorrisos.

Direi adeus às roupas e calçados
que sem uso tornaram-se âncoras
e do passado precisam ser içadas.

Adeus também direi às fotografias
que de nossa história perpetuam
apenas a parte que nos interessa.

Foi de uma delas, há muito tempo,
que saiu o avô que eu nunca vi.
Ele sorriu e com um terno abraço
pediu-me que não ficasse triste
e disse, antes de voltar à imobilidade,
da felicidade de ter me conhecido.

Direi adeus às cartas e bilhetes
nunca entregues a quem eu amava.
Adeus aos poemas nunca concluídos,
fantasmas presos em velhas caixas.

Direi adeus ao excesso de verbo,
palavras que escapam em sentido único
e nunca mais encontram retorno.
Melhor será acolher e ter o silêncio
como cúmplice e fiel companheiro.

Direi adeus até mesmo ao museu de mim.
Doído, para sempre fecharei suas portas
e assim não mais serei atormentado
por lembranças e cicatrizes nele expostas.

Adeus às crenças e convicções superficiais.
Sei que bem mais leve e livre serei
por dizer adeus ao que não é essencial.

Depois, diante do mar, vendo o sol se por,
acompanharei o passar de nuvens em fogo.
Nelas buscarei o desconhecido rosto de Deus.


RAIMUNDO GADELHA






sexta-feira, 24 de julho de 2020

ADVOGADO-PARADIGMA




Thélio Queiroz Farias, prestigiado advogado paraibano, autor de diversas obras jurídicas, tem se dedicado a eleger e divulgar, através de suas redes sociais,  aqueles que considera como “Advogado Paradigma”, dentre os causídicos conhecidos no país. Entre nomes como Nabor Bulhões, Antônio Carlos de Almeida Castro (Kakay), Márcio Thomaz Bastos e Lênio Luiz Streck, o 44 .°  eleito foi Diógenes da Cunha Lima. No texto, além de uma pequena biografia do citado, Thélio diz: “Advogado com grande cultura humanística, tradição e inteligência. Advogado-intelectual, advogado competente e brilhante, Dioogenes da Cunha Lima é advogado-paradigma!".






O SINO





O  advogado, docente da UFBA e membro da Academia de Letras da Bahia, Fredie Souza Didier Júnior, em palestra on-line citou sua passagem pelo Rio Grande do Norte, em 2019, detalhando o ritual do sino na residência de praia de Diogenes da Cunha Lima. Com mais de 50 livros publicados sobre temas ligados à área jurídica, o professor Didier também é autor do livro de ensaios “Janelas Abertas”, que tem na capa um sino.









quinta-feira, 23 de julho de 2020

ENCONTRO DE TALENTOS




Três talentos do Rio Grande do Norte: o cenógrafo Woldney Ribeiro, o poeta Diogenes da Cunha Lima e o pintor Lennon Lie. 

Cidade Alta, Natal, março de 2020






terça-feira, 14 de julho de 2020

TANKAS DE RAIMUNDO GADELHA





As estrelas são
olhos do deus nunca visto
Homem sem crença,
segue o seu caminho
longe da essência.


Natal é berço
de mar, dunas ao vento...
Terço saudade
com imagens da cidade
e semblante dos amigo


Desenha no céu
Triste trajetória
Olhos úmidos,
o menino contempla
a morte da estrela.


Sobram as sombras,
noturnas assombrações
do que já não sou...
Perverso, o passado
perverte o presente.


Trago as mãos
calejadas de vida
E nelas sinto,
Indiferente, unhas
crescendo passageiras.


Vestir a blusa
que aqui esqueceste
Fechar os olhos
e, sentindo teu cheiro,
prolongar tua presença.


Com as palavras,
forjar mais um poema
Samurai serei
No fio da katana
o corte ou a guarda.


Peguei o brilho
de estrelas distraídas
Enchi os bolsos
e fiz, em meu caminho,
esboços de uma vida.


Onde o prazer
dos caminhos de ontem?
Mesmo sem crime
hoje eu sou detento
Lento passa o tempo.


Nem disse adeus
Para fugir da prisão,
o sonho bastou
Meu cavalo alado
trouxe paz onde estou.


Sem que perceba
eu faço diferentes
caminhos iguais
Destino não importa
Na busca constante, sou.


Caminho por ruas
que habitam meus sonhos...
Na velha casa
a janela é moldura
do meu primeiro amor.







O ESCULTOR





Depois de louvada a sua obra artística, resolveu fazer um estátua da Glória. Não lhe serviram o bronze, o mármore, o barro, o vidro, a cerâmica. Exausto pelo trabalho, esculpiu as trevas. Não lhe satisfez, esculpiu enfim utilizando a matéria prima das manhãs. É a glória.






MURILIANAS






quarta-feira, 8 de julho de 2020

segunda-feira, 6 de julho de 2020

MORRE O COLUNISTA SOCIAL PAULO MACEDO





Morreu neste domingo (5), o jornalista Paulo Macedo, aos 88 anos. Ele foi colunista social do jornal Diário de Natal por mais de 40 anos. Era também vice-presidente da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

Nasceu em 29 de dezembro de 1931, era cearense e se mudou para o Rio Grande do Norte nos anos 1950. Como colunista social, ficou conhecido por narrar fatos pitorescos da sociedade potiguar. Também foi um dos pioneiros do jornalismo automotivo no Nordeste, além de comandar programas de entrevista em emissoras de TV de Natal.

A Academia Norte-rio-grandense de Letras divulgou nota de pesar:

A Academia Norte-rio-grandense de Letras, com consternação dos seus membros, cumpre o doloroso dever de comunicar o falecimento do Acadêmico e Vice-Presidente da instituição, Jornalista Paulo Macedo, ocorrido hoje à tarde, no Hospital Memorial São Francisco, em Natal, vítima do Covid-19.

Oportunamente serão informadas as homenagens fúnebres.





UM HINO DE AMOR À CIDADE





UM HINO de AMOR à CIDADE

de Diógenes da Cunha Lima
interpretado por Lucinha Lira.
junho de 2009