quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

DIA

 


DIA

 

Pela sua mão levou-me o dia.

Aérea e dispersa eu dançava

Enquanto a luz azul se dividia.

Escuros e longos eram

Os corredores vazios

O chão brilhava e dormia.

E pela sua mão levou-me o dia.

O mapa na parede desenhava

Verde e cor-de-rosa a geografia:

Aérea e dispersa eu vivia

No colo das viagens que inventava.

Outro rosto nascia

No interior das horas

Prisioneiro e velado

Por incertas demoras.

Das páginas dos livros escorriam

Antigas e solenes histórias

Como um rio meu coração descia

O curso das memórias.

E pela sua mão levou-me o dia.

 

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

De "Mar novo".





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