O advogado
e escritor Francisco Marcos Araújo publicou excelente biografia sob o título de
“Cícero, o Semeador da Fé e Justiça: Uma Biografia de Cícero Alves de Sousa”.
Começada
a leitura do poeta cordelista Antônio Francisco, não se consegue parar até o
final do livro. O prefácio é do nobre e competente juiz Madson Ottoni de
Almeida Rodrigues. Nota-se absoluta precisão vocabular do autor. Sintam a força
do cordelista:
SEMEANDO
A JUSTIÇA
Cícero
foi temperado na queimada
Das
caatingas do chão paraibano
Engolindo
poeira e desenganos
Nos
sopapos do cabo da enxada.
Mas
poliu de vontade a sua estrada
Com
o seu sentimento mais profundo
Não
parou de caçar um só segundo
A
espada amolada da Justiça
Pra
lutar contra a mão da injustiça
Que
destrói a essência deste mundo
Foi
um jovem de força e de coragem
Um
herói, um cigano, um beduíno
Um
gigante com rosto de menino
Entre
os bicos de pedras da rodagem
Foi
ferreiro forjando a própria imagem
Um
açude sangrando de amizade
Um
riacho cantando de saudade
Um
cacique regendo a sua aldeia
E
agora é um mestre de mão cheia
Adoçando
o licor da humanidade.
O
livro conta a história do juiz Cícero Alves de Souza, ex-seminarista, em Catolé
do Rocha, erudito juiz e professor de Direito em Mossoró. Buscava Justiça, um
homem dedicado e cordial com todos. Muitas vezes, as suas sentenças não eram
aceitas pelo Tribunal por falta de fundamentação legal. Muito antes dos juízes
paranaenses, avant la lettre, ele
dava sentenças alternativas.
Relato
uma das suas sentenças. Três rapazes de Grossos, embriagados, roubaram um casal
de velhos. Além de um revólver, o produto do furto daria para comprar vacas. No
dia seguinte, sóbrios, arrependeram-se e devolveram o produto roubado. O
delegado não quis conversa. Prendeu-os e remeteu o inquérito para o Dr. Cícero.
A sentença surpreendeu. Foram condenados a assistir, por quarenta domingos
seguidos, a missas na primeira fila da igreja. O pároco deveria atestar as
presenças.
O
autor da biografia pesquisou e descobriu que os três, depois da sentença, nunca
deixaram de trabalhando e viver regularmente. Um deles era zelador da igreja.
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