segunda-feira, 28 de março de 2016

LIVREI MEU CORAÇÃO


Livrei meu coração das angústias
Porque os amigos estão morrendo
Todos, um a um. Fica somente
Um silêncio denso, bem presente.

Yolanda, que não gostava de tardes,
Amavas as flores vermelhas,
Morreu quando o dia veio.
Lúcio, forte e bom, homem duro,
Numa sexta-feira, dia de expediente,
Morreu de câncer nos rins.

Todos estão morrendo
Com horas, lugares, os outros assistindo
Mas a causa mortis maior
A que sinto – única – e realmente triste
É a vida.

Por tudo isso
E pelo que mais consta
Na busca peregrinante,
Com truque de mágica
Vagabunda e desconsolada,
Livrei meu coração das angústias.

Não quero mais certezas teológicas,
Nem tudo que o homem bom inventou
Nos momentos emocionais
Para movimentos e permanências
Tardes e madrugadas, tudo vão,
Inútil e cansado, nebulosas.

Que venham os deuses e diabos confraternizados
Ferindo zambumbas e oboés
Unindo em abundantes e perfeitas lágrimas
Lembranças dos tempos clássicos
Em que era a ilusão.
Quero é o sol de espartilho,
Os asilos abertos como agora,
Tudo afastado e bom,
Pois o lugar
Mais distante da angústia
É a angústia morando.



Diogenes da Cunha Lima




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