Considerada patrimônio
histórico e cultural do Brasil, a literatura de cordel é poesia popular
característica do povo nordestino, impressa e divulgada em folhetos. Chegou ao
Brasil no século XVI, introduzida pelos portugueses desde o início da
colonização. Segundo Clotilde Tavares, foi inventada por Leandro Gomes de
Barros no séc. XIX. O reconhecimento mundial veio com os elaborados estudos de
Luís da Câmara Cascudo e Veríssimo de Melo. Muitos escritores foram influenciados
pelo cordel, e entre eles: Manuel Bandeira, Mário de Andrade, João Cabral de
Melo, Ariano Suassuna, José Lins do Rego e Guimarães Rosa.
Inicialmente, quase
todos os autores da literatura de cordel eram cantadores. Estes improvisavam os
versos na hora que estavam cantando, viajavam pelas fazendas, vilarejos e
pequenas cidades do sertão. As imagens do cordel são feitas através da
xilogravura, inspirando artistas como Ciro, Virgílio Maia, Côca, Dorian Gray e
Newton Navarro. O nome tem origem na forma como esses folhetos são vendidos,
normalmente pendurados em barbantes, cordas ou cordéis nas feiras e nos
mercados.
Para os escritores
desse gênero é possível ser o repórter dos acontecimentos, representante do
povo, narrar as histórias de Lampião, de João Grilo, falar sobre causos de
amor. Algumas das principais características do cordel são: possui uma essência
cultural muito forte, pois relata tradições culturais regionais e contribui
bastante para a continuidade do folclore brasileiro; são baratos e por isso
atingem um grande público e isso acaba sendo um incentivo à leitura; suas
histórias têm como ponto central uma problemática que deve ser resolvida com inteligência
e astúcia.
A Universidade Federal
do Rio Grande do Norte foi pioneira na valorização desta arte, na época em que fui
seu reitor. Criamos a primeira biblioteca brasileira de cordel. A coleção foi
selecionada inicialmente do acervo de Veríssimo de Melo e colocada numa sala
específica no Centro de Convivência. Logo após, uma funcionária da UFRN foi
encarregada de adquirir milhares de exemplares, viajando da Bahia ao Maranhão. Atualmente
está na Biblioteca Zila Manede, da UFRN. Para
orgulho de todos, catalogada e digitalizada.
A Academia Norte-rio-grandense
de Letras também foi pioneira. Cantadores foram convidados para um desafio.
Como tema, a chegada do cantador o céu. Um dos poetas, Antonio Sobrinho, fez na
hora um relato dizendo que todos os anjos e santos saberiam da novidade. Muito
aplaudido, continuou:
Viajei num
transporte igual ao vento
E fui
conhecer o céu empírio
Nas mãos
levei meu instrumento
Ao chegar no
céu neste momento
Me senti o
poeta mais feliz
Jesus me
escutando pedindo bis
E eu repeti
a mesma cena
Namorei com
Maria Madalena
Não casei lá
no céu
Porque não
quis
DCL
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