quarta-feira, 16 de março de 2016

AS MULHERES NA POLÍTICA DO SERIDÓ

Publicado no PORTAL NO AR 
blog PONTEIO, de Aluísio Lacerda


AS MULHERES NA POLÍTICA DO SERIDÓ

Fernando Antônio Bezerra


Na semana que lembra os direitos da mulher e destaca seu protagonismo político e social, recordo, deste canto de página, a boa fibra da mulher seridoense, algumas das quais que assumiram postos de liderança e escreveram, com merecido destaque, seus nomes na história.

A primeira delas, certamente, é Júlia Augusta de Medeiros nascida no Caicó de todos nós, na Fazenda Umari, no dia 28 de agosto de 1896, filha de Antonio Cesino de Medeiros e Ana Célia Amélia de Medeiros.

Júlia Medeiros exercendo seu direito de votar.Júlia Medeiros é uma das mais importantes personalidades da história de Caicó. Adauto Guerra Filho, pesquisador e escritor, chega a afirmar que ela é a mulher mais importante da história de Caicó — foi professora e, sendo excelente oradora, era chamada para fazer saudações a autoridades e a falar em público em ocasiões festivas da cidade; foi a primeira mulher a dirigir um automóvel em Caicó; também a primeira conterrânea a viajar de avião e a pioneira a votar no Seridó.

Para que o voto feminino se consolidasse como um direito foi preciso uma luta de anos. A Federação Brasileira pelo Progresso Feminino foi uma das instituições nacionais que se destacaram nesta luta. Sua Presidente, Bertha Lutz, visitou Caicó e estabeleceu com Júlia Medeiros uma posterior comunicação por cartas sobre temas de interesse da luta feminista daquela época.

Júlia também foi, anos depois, a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal de Caicó (1951-1954 e 1954-1958).

VOTO FEMININO

Sobre o voto feminino, é necessário – fazendo justiça – destacar a sensibilidade e o apoio que a causa teve dos seridoenses José Augusto Bezerra de Medeiros e Juvenal Lamartine de Faria.

No Seridó, ainda sobre o tema, a primeira inscrita como eleitora é de Acari. Segundo pesquisa de Rostand Medeiros no sempre consultado sítio eletrônicowww.tokdehistoria.com.br “a professora Marta Maria de Medeiros, de 24 anos, nascida e morando na Fazenda Rajada, filha do fazendeiro e coronel nomeado da Guarda Nacional Joaquim Paulino de Medeiros e da senhora Maria Florentina de Medeiros (conhecida como Dona Maricota), buscava junto ao Juiz da cidade, João Francisco Dantas Sales, o seu alistamento eleitoral, pois preenchia todas as condições para a inscrição.

A decisão do juiz Sales, ante o pedido da professora, foi publicada oficialmente no dia 10 de dezembro de 1927, tornando-a a quarta eleitora do Rio Grande do Norte e a primeira da região do Seridó.”

A primeira eleitora no Estado do Rio Grande do Norte é de Mossoró. Foi, aliás, “a primeira mulher oficialmente alistada e a primeira a receber um título eleitoral na América do Sul”:professora Celina Guimarães Vianna (Diário Oficial, em 25 de novembro 1927).

Não foi uma luta fácil. Os primeiros votos foram, inclusive, questionados. Em 1929, contudo, uma primeira mulher foi eleita. Em Lages-RN, Alzira Soriano se elegeu Prefeita, sendo a primeira mulher a ocupar tal cargo no Brasil.

No Seridó demorou um pouco mais a termos Prefeitas. Florânia foi a primeira cidade do Seridó a ter uma Prefeita: Possidônia Medeiros (Santa Laurentino). Jardim de Piranhas(Daura Saldanha) e Jardim do Seridó (Maria José de Medeiros) foram as seguintes. Mas os Municípios de Acari, Ipueira, Equador e Ouro Branco também já elegeram mulheres para o mais destacado cargo do Executivo local.

É consenso que o espaço político vai se ampliando, sobretudo pela atuação eficaz de muitas mulheres nas Câmaras e Secretarias Municiais, porém muito se deve as pioneiras, nem tanto lembradas como mereciam. E, mesmo não citando o nome de todas, espero ter provocado a lembrança e a homenagem as que não foram citadas.

Quanto a Assembleia Legislativa, a primeira mulher Deputada Estadual no Rio Grande do Norte é uma conterrânea seridoense de Currais Novos. Trata-se de Maria do Céu Pereira Fernandes, eleita em 1934. Depois de Maria do Céu, recordo somente outras duas seridoenses na Assembleia Legislativa: Monica Nóbrega Dantas e Ivonete Dantas. Teríamos tido mais alguma?

Monica Nóbrega Dantas, acariense, nascida em 1915, no dia 5 de maio e falecida em 18 de julho de 2000, foi Deputada Estadual por dois mandatos e Prefeita de Macaíba também por duas vezes. Ela era casada com Francisco Seráfico Dantas, empresário e agropecuarista que também foi Deputado Estadual e Prefeito de Acari. Ivonete Dantas, por sua vez, é caicoense, nascida em 16 de agosto de 1959. Foi Deputada Estadual por um mandato, eleita em 1994. Foi, também, Suplente de Senador, chegando a assumir o mandato por alguns períodos até concluir, como titular, a legislatura passada (2014-2015).

Com raízes no Seridó, duas deputadas federais já se elegeram: Wilma de Faria (1986) e Zenaide Maia (2014). Aliás, Wilma de Faria, inclusive, chegou ao Governo do Estado por duas vezes (2002 e 2006). Levam consigo a poeira do Seridó que contagia e nos cobra a fazer bem feito.

Como declarou, certa vez, o poeta Diógenes da Cunha Lima, ex-reitor da UFRN: “o Seridó é uma civilização solidária. Região desfavorecida pelo clima, nuvens e chão; é beneficiada pelo homem, sua vontade, sua decisão. E pelas bênçãos de Deus”.




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