OS
PRÊMIOS NOBEL EM NATAL
A Academia sueca não descobriu o Brasil. A única pessoa aqui
nascida a ser prêmio Nobel foi o zoólogo Peter Medawar, fluminense, filho de um
empresário carioca e de uma inglesa. Viveu em Petrópolis até os 15 anos, possuidor
de cidadania britânica, mudou-se para Londres. Lá, em 1960, foi laureado com o
Prêmio de Medicina.
Nossa vizinha, a Argentina, brilha com cinco prêmios Nobel. O
Chile, com a poesia à altura dos Andes, teve agraciados Gabriela Mistral e Pablo
Neruda. A possibilidade maior de um brasileiro ter sido premiado ocorreu, em
1967, com a justíssima indicação de Jorge Amado. Entretanto, a preferência foi
para o guatemalteco Miguel Ângelo Astúrias. Houve ainda outro movimento com a
indicação de Carlos Drummond de Andrade. Por coincidência, à época, eu estava
na presidência do CRUB - Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras.
Pedi aos colegas de 79 universidades que mobilizassem as forças vivas. Muitos o fizeram. Levei a proposição à
Academia Brasileira de Letras. Rachel de Queiroz, entusiasmada, falou sobre a
legitimidade do pleito. Todavia, a recusa, muito divulgada, do poeta Drummond em
concorrer sepultou a candidatura.
Quando foi receber o prêmio (1971), o Poeta andino deu
entrevista à Rádio Estocolmo. Meu amigo Chico Cortez trabalhava no Banco do
Brasil na Suécia. Sabedor do meu agrado, gravou a entrevista em fita magnética
e mandou-me o presente. Deslumbramento! Perguntado o que seria a América
Latina, o Poeta respondeu: “El continente de la injusticia”. Anos depois, levei
a fita a Santiago, do Chile, para o encontro da O.U.I. - Organização
Universitária Interamericana. Disponibilizei ao reitor da Universidade, que nos
recepcionava, para que ouvissem a preciosidade histórica. Aconselhou-me o
silêncio: era o Governo de Pinochet. Na noite seguinte, a entrevista foi ouvida
pelo reitor e por pessoas por ele escolhidas.
A
leitura de Neruda, e até mesmo qualquer referência, era proibida. Ele era um
visionário, sonhador (e talvez, por isso, um homem perigoso). Em seu discurso,
recebendo o prêmio Nobel, ele, inspirado em Rimbaud, proclamou o seu sonho: “Só
com ardente paciência conquistaremos a esplêndida cidade que dará luz, justiça,
dignidade a todos os homens”.
O baiano–natalense, Antonio Nahud, jornalista, conseguiu um
feito inusitado. Entrevistou seis Prêmios Nobel de Literatura: o espanhol
Camilo José Cela (Nobel 1989); o português José Saramago (Nobel 1998); o alemão
Gunter Grass (Nobel 1999); a britânica Doris Lessing (Nobel 2007); o peruano
Mario Vargas Llosa (Nobel 2010) e o nipo-britânico Kazuo Ishiguro (Nobel 2017).
Entrevistas estas publicadas nos jornais “Folha de São Paulo”, “A Tarde” (BA),
“O Tempo” (MG) e “Diário de Notícias” (Portugal). O leitor potiguar poderá desfrutar
de intimidades desses ícones. Durante dezoito meses, a revista trimestral da
Academia de Letras publicará suas entrevistas.
Cumprindo a orientação bíblica pela qual muitos são os chamados e poucos escolhidos,
houve escolhas justas e perfeitas. Assim, a Academia sueca homenageou
escritores como Rudyard Kipling, Tagore, André Gide, Bertrand Russell, Saint-John
Perse. Por outro lado, pecou por omissão e teve falhas. Não se atribuiu o
prêmio a Proust, Tolstói, Émile Zola, Fernando Pessoa. O prêmio Nobel da Paz,
por cinco vezes, foi recusado a Gandhi.
Portugal mereceu a glória de José Saramago, mas reconhece o
erro da outorga a Antônio Egas Moniz, inventor da frustrante e calamitosa
intervenção cirúrgica no cérebro, a lobotomia.
Natal tem guardado pensamentos de prêmios Nobel.
Nenhum comentário:
Postar um comentário