quarta-feira, 27 de abril de 2022

UM ÚNICO PENSAMENTO

Eugène Delacroix: A Liberdade Guiando o Povo


Nos meus cadernos de escola
Nesta carteira, nas árvores,
Nas areias e na neve
Escrevo teu nome
 
Em toda página lida
Em toda página branca,
Pedra, sangue, papel, cinza,
Escrevo teu nome
 
Nas imagens redouradas,
Na armadura dos guerreiros,
E na coroa dos reis
Escrevo teu nome
 
Nas jungles e no deserto,
Nos ninhos e nas giestas,
No céu da minha infância
Escrevo teu nome
 
Nas campinas, no horizonte,
Nas asas dos passarinhos
E no moinho das sombras
Escrevo teu nome
 
Nas veredas acordadas
E nos caminhos abertos,
Nas praças que regurgitam
Escrevo teu nome
 
Na lâmpada que se acende,
Na lâmpada que se apaga,
Em minhas casas reunidas
Escrevo teu nome
 
Em meu cão guloso e meigo,
Em suas orelhas fitas,
Em sua pata canhestra
Escrevo teu nome
 
No trampolim desta porta,
Nos objetos familiares,
Na língua do fogo puro
Escrevo teu nome
 
Em toda carne possuída,
Na fronte de meus amigos,
Em cada mão que se estende
Escrevo teu nome
 
Em meus refúgios destruídos,
Em meus faróis desabados,
Nas paredes do meu tédio
Escrevo teu nome
 
Na ausência sem mais desejos,
Na solidão despojada,
E nas escadas da morte
Escrevo teu nome
 
Na saúde recobrada
No perigo dissipado
Na esperança sem memórias
Escrevo teu nome
 
E no poder de uma palavra
Recomeço minha vida
Nasci pra te conhecer
E te chamar
LIBERDADE.
 
PAUL ÉLUARD
Tradução dos mestres Manuel Bandeira 
e Carlos Drumond de Andrade.




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