terça-feira, 17 de março de 2020

SOBRE MURILO MELO FILHO





Do professor Ezequias Pegado Cortez sobre seu cunhado Murilo Mello Filho:


Uma minuta, Diógenes, saindo d’alma, a verdadeira.

Conheci Murilo em junho de 1966, quando o visitei no apartamento em que morava, nas proximidades da Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro.

Fiz essa visita em razão de pedido da minha  namorada e depois mulher, mãe dos meus filhos e avó dos meus netos, Ana Emilia.

Tinha  21  e ele 38 anos.

Já então era um profissional vitorioso no jornalismo nacional, um verdadeiro self-made-man neste campo de trabalho árduo e intelectual.  Um marco nessa elite.

Recebeu-me na sala do seu apartamento, com a mulher Norma e, lembro bem, seu último filho Sérgio, ainda bem pequeno.

Os demais filhos, Nelson e Fátima, falaram comigo de passagem e foram para os aposentei internos.

Sabia que estava tendo o privilégio de conhecer um homem brilhante e inteligente, padrinho e irmão mais velho da minha namorada havia 3 anos, amor que se mantinha por cartas diárias, sem telefone e muito menos internet!!!

Norma viu minha tensão e fez tudo para que relaxasse, falava e perguntava sobre Vacaria/RS, onde fui tomar posse em 1965  e trabalhar por uns anos no Banco do Brasil.

Murilo, na sala de visitas, manteve-se de pé e falou muito pouco, calado a sua maneira, mas me analisava e me parecia entrar n”alma, no meu modo de pensar, no meu estilo de ser e nos meus valores...

Encontro marcante aquele. Um dos mais da minha vida.

Passaram os anos e fui transferido para Mossoró/RN, a pedido, porque precisava continuar o curso de economia, que havia começado na UFRN e trancado a matrícula na Universidade de Caxias do Sul/RS, onde cheguei a terminar o 1° ano do curso, cobrindo a distância de 111 km todas as noites.

E vem o ano de 1968 e os conflitos ideológicos quentes no Brasil de então.

Ele, a pedido de sua mãe, minha querida sogra Hermínia, consegue aprovar o meu pedido de remoção de Mossoró para Natal, onde me tornei economista pela UFRN,  fato que me comunicou com o seguinte telegrama:
“Esequias, o Presidente Néstor Jost, do Banco do Brasil, acabou de me dizer    que você vai passar o Natal em Natal. Abraço. Murilo”

Isto foi em 22.12.1968 e ele nunca mais havia tido nenhuma palavra comigo, escrita ou falada.

Tenho certeza que me tirou, na hora certa, de um ambiente de muita tensão ideológica  em que vivia e pouco notava...
Agradeço-o até hoje e vou fazê-lo sempre.

Depois, com o passar dos anos, convivendo familiarmente e vendo cada vez mais o seu valor, tive a honra de presenciar muitas das suas vitórias, entre as quais ser Imortal da Academia Brasileira de Letras, depois de sê-lo também da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

É um homem que gosta de viver, todavia tem a consciência do nosso fim e me dizia vez em quando, com um ar de riso,  ao seu estilo: “elegeram-me imortal porém não imorrivel. Infelizmente”.

Uns anos atrás me chamou para ser seu advogado no Rio e São Paulo. Tratou-me com absoluta confiança e procurei dar-lhe o máximo da minha capacidade, porque jamais esqueci o que me fez.

Murilo, você foi, é e sua vida continuará ser um exemplo para mim.





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