quarta-feira, 11 de março de 2020

CONVITE DE LÚCIO TEIXEIRA






Faz gosto a qualquer pessoa de bem ter amizade com Lúcio Teixeira. Ele é formidável. A nossa amizade vai além do compadrio, além do reconhecimento de suas virtudes. Ele é em tempo integral e dedicação exclusiva, um cidadão verdadeiro. Como advogado, professor, diretor de ensino superior, presidente da Academia de Letras Jurídicas do RN. Exerce uma liderança amena e amiga. Constitui uma família de quem tem muito do que se orgulhar.

Como dirigente universitário, ele teve todas as condições de se tornar reitor, mas a sua natural humildade, ou seu jeito de ser, de não se propor, talvez o tenha impedido. Na nossa permanência na UFRN, percebi que problema sobre a responsabilidade de Lúcio não era problema, era assunto resolvido. De fato, ele encontra soluções inteligentes e inesperadas que satisfazem.

Além das relembranças, dos fatos pretéritos, que ele traz, por isso as memórias, Lúcio é absolutamente singular por ter uma memória seletiva, fiel e exata. Escrever não é só libertar a alma dos fantasmas, é também tornar o texto iluminado. E ele sabe fazer. Por isso, o caminho do escritor é complexo, e como dizia Lao Tsé: “Um caminho de 100 léguas começa com o primeiro passo”. Pode-se dizer também que há doces e doces. Da mesma forma que há memórias e memórias. As de Lúcio Teixeira são de confeitaria fina. A massa é leve, o açúcar na medida certa, o sabor de deixar saudade na boca. Como na culinária, a literatura é questão de acertar o ponto.  E ele acertou com maestria.

Recuperando lembranças e fatos, Lúcio – (eu li no Google!) é o luminoso, nascido como a manhã - abriu o baú do passado para transformá-lo num livro que registra a sua singela e profunda relação de amor com a vida e os seres humanos. Desde as origens. Ama a sua terra, Lages, onde nasceu. Relembrando, é um bom poeta, simples e objetivo, cristalino, capaz de estabelecer novos rumos.

Um livro de memória é empreitada caprichosa. Várias histórias reunidas em um só espaço. A expectativa do leitor é encontrar unidade e diversidade. Pois o autor deste livro, cheio de recursos, consegue que a gente enxergue a unidade – personagens flagradas em altas doses de sua humanidade,  sem que a leitura canse. Quando a gente menos espera, o memorialista diversifica. Muda de tema, tom, tratamento. Ele vai abrindo janelas. A sua linguagem tem força e dá um sabor especial às histórias. Abre um leque para mostrar o momento de vida de seres que vivem e lutam no teatro do cotidiano. Alguns episódios conseguem cenários marcantes, quase fotografam locais com palavras.

Ariano Suassuna afirmou: “Não existe diferença entre a literatura e a vida. A literatura foi o caminho que eu encontrei para enfrentar essa bela tarefa de viver”. As histórias deste livro vão sensibilizar os leitores. São momentos especiais vivenciados pelo autor. É o universo do cotidiano levado para o mundo da literatura. O leitor não vai achar textos metafóricos, mas textos que revelam um olhar penetrante, às vezes telúrico, sobre os acontecimentos.

Nesta oportunidade, Lúcio Teixeira dá mais um passo na estrada literária e entra no mundo da memória mostrando que pode criar o seu próprio estilo, longe das modas literárias que chegam e passam. Ele nos leva pelo seu universo mostrando-nos acontecimentos da vida: os avanços, as dúvidas, os medos, a coragem, a vida familiar. O mundo mental se enlaça vigorosamente com o mundo real. Ele retrata comportamentos humanos.  Porém o melhor de tudo, a fonte de prazer do livro, é a mente aberta do escritor. Trata-se de um olhar sensível. Olhar em questão presente em todo o livro.

O livro nos emociona graças à linguagem de revelação. Não se furta a temas fortes. Mas tudo é narrado do jeito que a vida é, isto é, com porcentagens de dureza e de ternura. Leitura que perdura nas esquinas da memória. A narrativa traz histórias que pairavam no imaginário de Lúcio e que podem também fazer parte do imaginário dos leitores. Esta é a tarefa da literatura: a criação de universos paralelos. Uma tarefa que o escritor realiza imprimindo o seu próprio estilo com grande categoria.


DIOGENES DA CUNHA LIMA





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