ODE AO BOI
a Diogenes da Cunha Lima
Boi solar,
rupestre,
nesta ode investe
com ternura lúcida
seu debuxo exato,
o compasso de seu passo
e olhar de vidro opaco.
Em aladas narinas
cavalga o vento
e inventa
a flauta avena
no cálido tempo.
Seus calcinados dentes
cravam sinais de pastos
florescendo tardo
em sonhos.
O mugir é trompa
de quase humano grito
em campos de sodomas mortas
que o sal amarga,
faz da boca, brasa.
Patas cavam solidão e espaço
- searas que não incensam.
Debaixo do silêncio
O boi agrestino dorme
Sob céus de calor e
Em incesta terra, viúva na caatinga
Clamando verde que não rebenta.
Mas se os olhos abre
é aprendiz da inútil espera
de pastos e águas de rurais antigas.
Seu frágil corpo
embarca ao vento
o diadema de seus chifres,
a curtida pele em varal de ossos.
E a cauda do seu universo tira o ritmo
de supostos remos da taciturna angústia.
Adversário de sua placidez e das coisas que o
animam
tão rude e campesino,
o homem,
nas setas de sangue
alongará seu corpo até à mesa
- víscera das coisas vivas
Que transforma em holocausto e tabor
para que sinta no estigma da carne viva
carne morta.
Dourado de fatias
Jaz seu corpo magro
de azeite untado,
sem memória. Desfigurado.
Assim cumprido,
o bíblico boi divide
sua carne vermelha e solidária
a farsantes e plebeus.
E conserva
o que no homem forma
de circunstancial:
memoráveis feitos
do Bem e do Mal.
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