A história da Faculdade de Direito de
Natal é uma história vitoriosa. Portanto, saúdo a Gileno Guanabara pela
iniciativa da publicação da segunda edição de “Faculdade de Direito de Natal –
Lutas e Tradições: 1949 – 1973” que ora vem a lume com novas significâncias. No
atual momento do pensamento jurídico e da vida do direito e da política no
Brasil e no mundo, em que as contradições sociais se tornam cada vez mais
agudas e explícitas, é preciso resgatar a compreensão profunda do direito na
sociedade. Livros de memória e espaços de reflexão que consigam avançar no
entendimento dos mecanismos estruturais da reprodução de nosso tempo são
valiosos.
Tenho acompanhado a trajetória de Gileno
Guanabara, uma liderança amena, militante de esquerda universitária, idealista,
rebelde, mas que nunca aceitou exageros extremistas, conhecido pela plenitude
democrática e tolerância política. Sempre revelou vocação para a literatura e é
um fazedor de amizades. Advogado e
político, pesquisador incansável de nossa história, revela seriedade,
comprometimento, altivez e, principalmente, a dedicação de muitos anos de
vivência e pesquisa em relação a nossa Faculdade de Direito relatadas nesta
obra, que reflete as formas pelas quais o Direito pode incidir na vida do ser
humano, individualmente ou como grupo.
Intelectual respeitado, cronista,
memorialista, nascido na capital do Rio Grande do Norte e cuja carreira se
desenvolveu em Natal, Gileno é ilustre pensador do direito brasileiro, pela sua
trajetória, solidez de pensamento e grandeza de figura humana, é um símbolo
importante para os juristas e intelectuais potiguares, e esta publicação afirma
o seu melhor. O livro tem diversos capítulos que trazem reflexões sobre o a
Faculdade de Direito de Natal e trata de temas como “O Primeiro Vestibular”, “O
Corpo Docente”, “A Diretoria da Faculdade”, “Da Biblioteca da Faculdade” etc. Celebra
um curso marcado pela qualidade de ensino e pesquisa, e revela suas
transformações rumo ao aperfeiçoamento do ensino.
Na sua primeira edição, de 1988, teve
prefácio de Otto de Brito Guerra e capa de Nei Leandro de Castro. Otto foi
diretor da Faculdade de Direito, líder católico de grandeza humana e reitor da
UFRN. Nei é poeta e escritor renomado. Destaco também comentário valioso do
poeta Luís Carlos Guimarães, que diz: “Escrito sem o travo da amargura e do
ressentimento. Bem-humorado até. (...) Testemunho de Gileno Guanabara e de sua
geração sobre uma era de escuridão em
que,, de candeia na mão, atravessaram o túnel e foram ao encontro da manhã que
Ajudaram a construir. A marca do espírito de luta que fundou novos caminhos. O
testamento da fé e coragem de tantos que trabalharam o ideal da liberdade. A
consciência no futuro.”
Nesses dias, em que os novos campos do
Direito abarcam um sem-número de áreas, derivadas do desenvolvimento
tecnológico e do incremento da complexidade social e econômica, ocupar-se da
história de uma faculdade é uma tarefa de grande relevo. Hoje, nosso curso
acolhe as doutrinas reformadoras e também as conservadoras. Do diálogo entre
elas, da convivência entre professores acadêmicos e docentes vinculados ao
mercado, do respeito ao passado e do debate sobre o futuro do direito, nascerá
um pensamento jurídico mais consistente. Me formei nela. É uma enorme
responsabilidade seguir os passos dos homens que mudaram o ensino. Dou como
exemplo desta época de efervescência ideológica: minha turma era conhecida como
Turma da Paz, escolhemos como paraninfos John F. Kennedy e Nikita Khrushchov, e
ainda tivemos que homenagear o Papa João XXIII. A discussão era acesa.
Vida longa aos ideais que constituíram a
formação da Faculdade de Direito de Natal!
DIOGENES DA CUNHA LIMA
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