sexta-feira, 2 de março de 2018

DIÓGENES "CASCUDO" DA CUNHA LIMA





Texto de RAMALHO LEITE


Graças à iniciativa do paraibano Adalberto Targino e seus confrades da Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte fui honrado com a inclusão do meu nome entre os novos sócios da entidade, na categoria  de correspondente. Em muito boa companhia: Berilo Ramos Borba, Roque de Brito Alves, Raimundo de Oliveira, Ralph Siqueira,  Itapuan Botto Targino, Walber de Moura Agra, Ricardo Bezerra, além dos ausentes mas não menos destacados desembargadores Rogério Fialho e Fátima Bezerra Cavalcanti. A solenidade foi coroada com a posse de nova imortal, a advogada natalense Lúcia Jales.

Roubado da cena jurídica muito cedo, quando a tribuna parlamentar me convocou, mesmo assim percorri algumas searas que enriqueceram meu curriculum e me levaram à honra de pertencer àquele silogeu. Coube ao ex-reitor Berilo Borba traçar o perfil dos empossandos. Sobre a minha modesta pessoa escreveu: “nascido em Borborema, fez os primeiros anos do ensino médio aqui em Natal, onde teve de acompanhar as travessuras de “Pecado” que agitava a moçada. Terminou seu curso secundário no Liceu , em João Pessoa. Graduou-se em direito. Foi advogado militante e procurador. Na política foi vereador em Borborema e presidente da Câmara, deputado estadual e federal. Hoje é membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano e da Academia Paraibana de Letras. Jornalista consagrado, cronista, historiador e escritor: autor de vários livros”. O jornalista consagrado vem  da generosidade do orador.

Registro a espontânea acolhida dos membros da ALEJURN, entidade que reúne os mais representativos juristas da terra potiguar, desde o presidente Lúcio Teixeira, ao eterno presidente da Academia Norte Riograndense de Letras, o causídico, poeta e escritor Diógenes da Cunha Lima primo/irmão de Ronaldo, sobre quem publicou recentemente ilustrado trabalho lançado na nossa Academia de Letras. Seu admirador de longa data, pelo conjunto da obra, nossa ligação é também familiar. É Ramalho da descendência dos Amâncio Ramalho e viúvo de Moema Ramalho Tinoco, filha de Artur Tinoco e Carmésia, esta, filha do velho José Amâncio Ramalho, fundador da minha terra natal e pioneiro da energia hidroelétrica no nordeste brasileiro.

Diógenes é especialista em Luiz da Câmara Cascudo. Cascudo está para o Rio Grande como Gilberto Freyre para Pernambuco e José Américo para a Paraíba. Aliás, Cascudo tem algo mais em comum com Zé Américo:  ambos foram depurados quando eleitos deputados federais em 1930. “O meu mandato durou três dias”, diria Cascudo. Desde então abominou a política. Zé Américo seguiu em frente. Diógenes esmiuçou a obra cascudiana, anotou conversas, guardou dedicatórias e se deliciou com suas cartas. Absorveu essa convivência de vinte anos e documentou seus melhores momentos. Para ele, Cascudo era um brasileiro feliz. A princípio, o mestre reclamou da definição: indiretamente, milhões de brasileiros seriam infelizes… Terminou por aceitar o conceito e proclamou: “sou o que Diógenes me chamou: um brasileiro feliz”. Eu acrescentaria: e de muito bom humor. O  livro de Diógenes, “Câmara Cascudo um brasileiro feliz”, já vai na quarta edição e inclui um Dicionário do Humor do renomado escritor, folclorista, sociólogo, antropólogo, historiador, poeta e professor de Direito Internacional Público. Fundador da Academia de Letras do RN e de tantas outras instituições culturais fez jus à definição de Jorge Amado: “pobre de bens materiais, mas rico de alegria criadora”.

A simbiose entre Diógenes e Cascudo, resultado de uma longa convivência e respeitosa amizade levou-me a acrescentar Cascudo no nome do poeta para compor o título acima. O velho mestre não reclamaria. Seu discípulo, muito menos. Desde os treze anos, quando deixou Nova Cruz para continuar os estudos em Natal, Diógenes passou a frequentar o casarão da Junqueira Ayres. Só saia de lá com a carinhosa ordem do dono da casa: vá baixar noutro terreiro! Foi assim que começou a “beber água na fonte”,cumprindo, com rigor e dedicação  a recomendação paterna: “ Procure Cascudo. Câmara Cascudo é um rio, o resto tudo é riacho”.





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