Busco Berilo e o encontro transformado em rosas
vermelhas no lugar em que os seus avós já são senhores. Era assim que ele
desejava ser enquanto derramava poesia nos cantos, recantos e encantos desta
cidade do Natal. Ele está cercado de pessoas queridas. Luís Carlos Guimarães lhe faz provar o fruto
maduro de sua poesia. Gilberto Avelino usa um sextante como navegador que é,
enquanto apascenta o vento leste. Luís da Câmara Cascudo preside todos os
folguedos, cores e alegrias. Os Meses,
vestidos como raparigas, novembro à frente, desfilam para lhe ofertar flores,
xananas sempre abertas.
A mesma brisa natalina refresca o céu, no passar
lento do vento, Berilo existe e resiste, soprando elíseos e carinhos sobre Maria Emília, Henrique, Rômulo, Alexandre e Milena.
Aqui, aos setenta anos de sua presença e vinte e
cinco de ausência, os homens continuam a trazer para suas mulheres o suor, o
pão quente e o amor. Berilo transformou-se em rua, escola, centro acadêmico,
cinema e saudade. Berilo é uma pedra preciosa que se faz luminosa em nossa
lembrança.
Difícil imaginar o lírico Berilo Wanderley em pleno
exercício como Promotor de Justiça. Seria sempre o direito iluminado pela
poesia. Professor, também ensinaria apenas a arte de viver de leve, como os
passarinhos. Era “um ser em trânsito” como o definiu Sanderson Negreiros. Nada
o satisfazia plenamente. Um cunhado coronel lhe permitia tomar um avião, B-25,
para o Rio de Janeiro. Uma vez reclamou que o avião tinha uma goteira...
Gostava de beber no famoso Bar da Mocidade, na
Ribeira. Cantarolava “Com que roupa eu vou / para o samba que você me convidou”
enquanto buscava o ritmo na caixa de fósforos. Conta-se que Sanderson
Negreiros, que nessa época andava com um revólver no cinto, depois de beber
muitas, deu tiros contra um armazém comercial gritando: “Morra! Morra o
capitalismo!” E Berilo Wanderley: “Nunca mais bebo com você”. Meses depois,
convida Sanderson: “Bom, basta, prefiro beber com você dando tiros, do que com
os medíocres que não sabem atirar. Bom, basta!” Esta era a expressão que mais
gostava, aprendida nas sertanias do Cabugi.
Um conhecido escritor católico vai lançar em Natal
um livro com o título Bombom, Chocolate e Ameixa. Berilo anuncia o
lançamento na Livraria Universitária, mas comenta: “Bom, basta! Eu pensei que
era em uma confeitaria...”
Maria Emília quer vender o carro. Aparece o primeiro
comprador e começa a pedir informações, pede para abrir o capô. Berilo
responde, pausadamente, sem entusiasmo. Lá para as tantas, segreda ao comprador:
“Não compre, não. Este carro mal sai do lugar...”.
Deus costuma recompensar os que têm o hábito da
bondade lírica, os que têm a consciência do simples, os que toleram as
tristezas procurando sempre estar contente, alegre, feliz. Feliz significa ter
amigos e um amor verdadeiro.
Berilo Wanderley foi um contemplativo e via o mundo
à sua maneira. É reconhecido inconfundivelmente como um bom poeta e ótimo
natalense.
DCL
DCL tem muitas histórias e lembranças sobre o universo da literatura local. Compartilhei a postagem em meu blog.
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