terça-feira, 14 de junho de 2022

DEIJAIR e a MÚSICA

 


Acabamos de perder a pianista e professora de música Deijair Henrique Borges, que se encantou domingo, dia 05.  Diretora da Escola de Música da UFRN, diretora da Instituto de Música Waldemar de Almeida (Fundação José Augusto), diretora da Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte. Dirigiu, também, o Solar Bela Vista. Toda uma vida voltada para a música e por esses caminhos valorizando o músico da terra (lembrar o seu “Projeto Memória”, quando diretora da Escola de Música da UFRN). Foi  a criadora do famoso Regional Sonoro, referência na música potiguar. Sua obra será inesquecível.
 
Em outubro de 2017 este Jornal de WM dedicou boa parte de seu espaço ao “Projeto Memória”, criado e dirigido por Deijair. Saiu de uma remexida pelas gavetas dos papéis desarrumados onde fui encontrar cartas de Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava, Afonso Arinos e Murilo Melo Filho dirigidas a Deijair, todos aplaudindo o trabalho de nossa querida professora à frente da Escola de Música da UFRN. Em homenagem  a memória de minha querida amiga, transcrevo a coluna de 01 de outubro de 2017, que tem o título de “Projeto Memória”:
 
“Na gaveta dos papéis desarrumados encontro um envelopão, já com as marcas do tempo, guardando lá dentro quatro cartas preciosas que tratam do mesmo mote: o “Projeto Memória” desenvolvido pela Escola de Música da UFRN quando da administração da pianista e professora Deijair Henrique Borges, aí pelos meados dos anos de 1980. O time dos missivistas dá de 7 a 1 na Alemanha: Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava, Afonso Arinos, Murilo Melo Filho. As cartas são cópias de originais que me foram repassadas, faz tempo, por Deijair, minha querida amiga. Apenas uma manuscrita, a de Drummond. Outro detalhe: a carta de Pedro Nava foi datilografada em papel tendo como timbre o famoso relógio da Glória, bairro onde o grande escritor morava no Rio de Janeiro.
 
A carta de Drummond está escrita em meia folha timbrada com o seu nome completo: Carlos Drummond de Andrade. Já Murilo Melo Filho usou o papel com o timbre da revista Manchete. Todas as quatro cartas foram escritas no mesmo mês de julho de 1983, diferença curta entre os dias, parecendo até coisa combinada entre eles. Começo essa história transcrevendo a carta de Drummond, letra firme, redondinha, poética:
 
“Rio de Janeiro, 17 de julho, 1983
 
Prezada Professora Deijair Henrique Borges:
 
Que presente régio, a série de LPs do Projeto Memória, da UFRN! Fiquei deslumbrado com esse trabalho admirável, que atesta de maneira cabal a musicalidade da gente rio-grandense-do-norte, tanto na área popular como na erudita, repassando por Oriano de Almeida, que eu conheço pessoalmente e que muito admiro. Estou ‘curtindo’ os discos no meu escritório, aos poucos, como se deve saborear um vinho de qualidade. E agradeço-lhe de coração a ideia gentil de oferecer-me esse conjunto de excelente realização técnica.
 
O abraço e a admiração de Carlos Drummond de Andrade”.
 
A CARTA de PEDRO NAVA
 
Nava, dos nossos maiores memorialistas, autor de uma obra monumental em 6 volumes (“Baú de Ossos”, “Balão Cativo”, “Chão de Ferro”, “Beira-Mar”, “Galo-das-Trevas” e “Círio Perfeito”) já havia prestado anteriormente uma homenagem às letras do Rio Grande do Norte. Um poema de Nei Leandro de Castro, “Lendo Pedro Nava”, está incluído na edição de “Beira-Mar”. Em “O Círio Perfeito” foi a vez de Luís Carlos Guimarães com “Naveana do Galo-das-Trevas”. Vejamos a carta de Pedro Nava:
 
“Rio de Janeiro, 12 de julho de 1983
 
Prezada Diretora Deijair Henrique Borges,
 
Recebi ontem e já me dei o prazer de ouvir alguns dos discos tão bondosamente oferecidos. Muito bons e meus parabéns pela tão bela realização de “memória” que vem sendo feita no Rio Grande do Norte, pela sua música. Que beleza se todas as nossas Universidades e Escolas de Música fizessem o mesmo para seus Estados.
 
Estou incluindo um bilhete de agradecimento ao Prof. Diógenes da Cunha Lima, de quem ignoro o endereço. Abuso de sua bondade e mando-o aos seus cuidados.  Queira receber com meus agradecimentos, as expressões de minha afetuosa simpatia. Seu muito grato. Pedro Nava”.
 
A CARTA de AFONSO ARINOS
 
A terceira carta é de outro grande escritor mineiro, Afonso Arinos de Melo Franco, historiador, crítico literário, memorialista com M grande, imortal da Academia Brasileira de Letras e também político. Vários mandatos de deputado federal e senador. Ministro de Estado. Sua carta tem feitio de ofício:
 
“Rio de Janeiro, 14 de julho de 1983
 
Exma. Sra.
 
D. Deijair Henrique Borges
 
M.D Diretora da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
 
Prezada Diretora,
 
Tenho a agradecer-lhe a gentil oferta de discos com gravações musicais de compositores desse Estado, que acabo de receber. Alegrou-me sobremodo tomar conhecimento da elogiável e patriótica iniciativa dessa Universidade, que preserva e divulga os valores culturais da terra e, assim, contribui para revelar e incentivar o desenvolvimento de novos talentos.
 
Está, pois, de parabéns, a UFRN e, em especial, a Escola de Música sob a competente direção de V.Exa. Rogo-lhe transmitir ao caro amigo Prof. Diógenes da Cunha Lima minhas palavras de sincero agradecimento.
 
Aceite, prezada senhora, as saudações mais respeitosas de Afonso Arinos.”
 
A CARTA de MURILINHO
 
A carta de Murilo Melo Filho, grande jornalista, natalense nascido na Ribeira, também imortal da ABL, está escrita assim:
 
“Rio, 12 de julho de 1983
 
Professora Deijair:
 
Fiquei emocionado e feliz ao receber a coleção de discos que teve a gentileza de enviar-me. É uma felicidade poder escutar a música da terra natal, em excelentes produções.
 
Peço-lhe transmitir aos companheiros de trabalho as minhas sinceras congratulações pela excelente obra que estão realizando. Felicidades para todos. Prossigam. Cordialmente, Murilo Melo Filho.
 
P.S.- Registrei na seção “EXPRESSAS”, da Manchete o lançamento de sua coleção. M.”
 

WODEN MADRUGA






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