quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

ERA UMA VEZ A PULGA DO CINEMA ÉDEN




Nos anos 50, meu tio Odilon Amâncio Ramalho, pai de Noilde Ramalho, revolucionou Nova Cruz. Homem do progresso, entre outras coisas trouxe energia elétrica para a cidade e fundou o Cinema Éden, que a seguir foi alugado por Paulo Bezerra. Era um senhor nacionalista, chamado por muitos de comunista. Começava a sessão com o épico “O Guarani”, de Carlos Gomes. O cinema era dividido em três classes, na mais simples o público ficava em pé no corredor. Seu porteiro folclórico chamava-se Zé Boca da Noite, um cachaceiro, um farrista incorrigível. Sem pagar um tostão, ele colocava os companheiros de noitada para ver os filmes. A esposa de Paulo Bezerra soube da mamata e se queixou com o marido, exigindo demissão imediata. “Se eu der as contas pra ele, quem danado vai dar emprego ao pobre homem”, respondeu. Inconformada, ela passou a ficar na porta do cinema, vigiando o empregado. Impedidos de assistir aos filmes, os parceiros se queixavam com o próprio arrendatário do cinema: “Doutor Paulo, Zé deixava a gente ver os filmes e agora estamos impossibilitados”. Paulo Bezerra tirava dinheiro do bolso e dizia: “Tome, compre um bilhete e veja o filme”. Certa vez, um cliente habitual se queixou que o cinema estava cheio de pulgas. “Veja!”, mostrou uma. “A pulga tem o carimbo do Éden? Não tem! Pois foi você que trouxe”, rebateu Zé Boca da Noite.

 

 



Nenhum comentário:

Postar um comentário