quarta-feira, 27 de maio de 2020

FUI EU




FUI EU


FERNANDO PY


Fui eu esse menino que me espia
— melancólico olhar, sereno rosto,
postura fixa e o todo bem composto —
no retrato que o tempo desafia.

Fui eu na minha infância fugidia
de prazeres ingênuos, e o desgosto
de sentir tão efêmera a alegria
bem depressa trocada em seu oposto.

Fui eu, sim; mas o tempo que perpassa
e tudo altera nem sequer deixou
um grão de infância feito esmola escassa.

Fui eu: e na figura só ficou
o olhar desenganado, na fumaça
em que a criança inteira se mudou.







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