segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

OS PÁSSAROS DA MEMÓRIA




Quem, algum dia, estonteado com a sua face esplendente, procurou saber se uma joia tinha coração? Ao contrário, um livro tem rosto e coração, mas sempre o título corresponde ao que esta nas suas entranhas, na lama do poeta.

Em ser um belo, sugestivo e feliz título, “os Pássaros da Memória”, de Diogenes da Cunha Lima, nos surpreende pela sua alta voltagem poética. A leveza dos poemas, todos de três versos, com uma frequência de rimas, ao que parece espontânea, têm a transparência do ar e a tessitura de nuvem.

Sua delicada e refinada construção supõe um trabalho de fina ourivesaria. Poemas que abordam uma infinidade de temas, aos quais o poeta, contido e sem transbordamento, imprime seriedade e reflexão, quando preciso; ou como dádiva maior da poesia envolve-os em ternura, ludismo, magia, sortilégio. Em ambos os casos nos revelando a verdadeira face da poesia.

Embora à primeira vista pareça uma poesia feita para a contemplação, para ser lida num murmúrio, quase a confundir-se com o silêncio de uma sala em penumbra, há nela momentos de tumulto e torrente. Assim, ao lado de temas de natureza suave, outros têm arestas de pedra bruta, que o polimento e a lapidação do poeta transformaram, paciente e constantemente, em poesia, esse estado de graça que nos fez ver o mundo com olhos azuis.


GUIMARÃES, L.C.  A poesia, esse estado de graça. Diário de Natal. Natal, 20 de setembro de 1999.





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