Quem, algum dia,
estonteado com a sua face esplendente, procurou saber se uma joia tinha coração?
Ao contrário, um livro tem rosto e coração, mas sempre o título corresponde ao
que esta nas suas entranhas, na lama do poeta.
Em ser um belo, sugestivo
e feliz título, “os Pássaros da Memória”, de Diogenes da Cunha Lima, nos
surpreende pela sua alta voltagem poética. A leveza dos poemas, todos de três
versos, com uma frequência de rimas, ao que parece espontânea, têm a
transparência do ar e a tessitura de nuvem.
Sua delicada e refinada
construção supõe um trabalho de fina ourivesaria. Poemas que abordam uma
infinidade de temas, aos quais o poeta, contido e sem transbordamento, imprime
seriedade e reflexão, quando preciso; ou como dádiva maior da poesia envolve-os
em ternura, ludismo, magia, sortilégio. Em ambos os casos nos revelando a
verdadeira face da poesia.
Embora à primeira vista
pareça uma poesia feita para a contemplação, para ser lida num murmúrio, quase
a confundir-se com o silêncio de uma sala em penumbra, há nela momentos de
tumulto e torrente. Assim, ao lado de temas de natureza suave, outros têm
arestas de pedra bruta, que o polimento e a lapidação do poeta transformaram,
paciente e constantemente, em poesia, esse estado de graça que nos fez ver o
mundo com olhos azuis.
GUIMARÃES,
L.C. A poesia, esse estado de graça.
Diário de Natal. Natal, 20 de setembro de 1999.
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