quinta-feira, 25 de outubro de 2018

NERUDA E DIÓGENES EM DESAFIO ONÍRICO




Diógenes da Cunha Lima publica um novo livro: Livro das respostas; face ao Livro de las preguntas, de Pablo Neruda (Massao Ohno Editor – São Paulo – 1996).

Temos certa intimidade com esse livro de Diógenes, que nasceu por sugestão nossa, conforme o próprio autor confessa com a dedicatória com a qual nos homenageou. Foi, na verdade, um desafio que fizemos, ao entregar o Livro das perguntas, de Neruda, adiantando que gostaríamos que o lesse e respondesse a todas as perguntas difíceis ou surrealistas que ali se acontiam. Se tanto tivesse “engenho e arte”, Diógenes, como dizem os gaúchos: “pegou logo o pinhão na unha”. Durante uma semana, dias e até meses, ele foi respondendo uma a uma todas as trezentas e tantas questões intrigantes levantadas por Neruda. Fez e refez esse livro várias vezes. Procurava avidamente a melhor solução para as indagações do poeta chileno. Soluções que envolviam a contenção e rima, e até a síntese adequada. Foi trabalho de artesanato que só um poeta de alta categoria poderia enfrentar.

Edson Nery da Fonseca, num prefácio magistral, disse tudo sobre a tarefa a que Diógenes se entregou de corpo e alma. Resume a obra de Diógenes com estas palavras: “Diógenes é, sem dúvida, um poeta nascido para os mais altos voos da imaginação. Um poeta de cariz mediano e, por isso, deu às perguntas de autor de Odas elementales as respostas que ele, estou certo, entusiasticamente aplaudiria”.
Pensamos que essa afirmação de Edson Nery da Fonseca, como crítico rigoroso e inflexível, diz bem da tarefa que Diógenes aceitou com deliberado desejo de superar os obstáculos, o terreno minado que Neruda semeou para os poetas do futuro.

Relembramos agora o belo livro que nos encantou com as várias respostas inteligentes ou simplesmente críticas que Diógenes formulou.

Vejam algumas que nessa leitura nos chamaram atenção à pergunta de Neruda dificílima: “y cuándo se fundou la luz. Est sucedeu en Venezuela?”.

Diógenes respondeu:
“A luz nasceu de uma costela da Eva, na Venezuela”.
Ou esta outra indagação:
Donde encontrar una campana que suene adentro de tus sueños?”.
Respondeu Diógenes:
“Os sinos dos sonhos não prescindem de badalos”.
Achamos magnífica a resposta do nosso poeta à pergunta de Neruda:
Cuándo lee la mariposa lo que vuela escrito en sus alas?Diógenes:
“Borboletas costumam ler quando leves voam sobre o espelho das águas”.

Também imaginosa a resposta para essa pergunta de Neruda: “Como se chamam os ciclones quando não tienem movimentos?”. Resposta: “Bem no começo, quando não em movimento, o ciclone se chama ovo do vento”. A uma pergunta de Neruda propondo reconstruir o inferno, Diógenes saiu-se com resposta lógica e bem-humorada:
“Inferno só é inferno por não permitir reforma”.

O livro é todo assim. Cheio de inteligência fértil de graça espontânea, e sobretudo, de sabedoria humana.


VERÍSSIMO DE MELO






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