Diógenes da
Cunha Lima publica um novo livro: Livro
das respostas; face ao Livro de las
preguntas, de Pablo Neruda (Massao Ohno Editor – São Paulo – 1996).
Temos certa
intimidade com esse livro de Diógenes, que nasceu por sugestão nossa, conforme
o próprio autor confessa com a dedicatória com a qual nos homenageou. Foi, na
verdade, um desafio que fizemos, ao entregar o Livro das perguntas, de Neruda, adiantando que gostaríamos que o
lesse e respondesse a todas as perguntas difíceis ou surrealistas que ali se
acontiam. Se tanto tivesse “engenho e arte”, Diógenes, como dizem os gaúchos: “pegou
logo o pinhão na unha”. Durante uma semana, dias e até meses, ele foi
respondendo uma a uma todas as trezentas e tantas questões intrigantes
levantadas por Neruda. Fez e refez esse livro várias vezes. Procurava
avidamente a melhor solução para as indagações do poeta chileno. Soluções que
envolviam a contenção e rima, e até a síntese adequada. Foi trabalho de
artesanato que só um poeta de alta categoria poderia enfrentar.
Edson Nery
da Fonseca, num prefácio magistral, disse tudo sobre a tarefa a que Diógenes se
entregou de corpo e alma. Resume a obra de Diógenes com estas palavras:
“Diógenes é, sem dúvida, um poeta nascido para os mais altos voos da
imaginação. Um poeta de cariz mediano e, por isso, deu às perguntas de autor de
Odas elementales as respostas que
ele, estou certo, entusiasticamente aplaudiria”.
Pensamos que
essa afirmação de Edson Nery da Fonseca, como crítico rigoroso e inflexível,
diz bem da tarefa que Diógenes aceitou com deliberado desejo de superar os
obstáculos, o terreno minado que Neruda semeou para os poetas do futuro.
Relembramos
agora o belo livro que nos encantou com as várias respostas inteligentes ou
simplesmente críticas que Diógenes formulou.
Vejam
algumas que nessa leitura nos chamaram atenção à pergunta de Neruda dificílima:
“y cuándo se fundou la luz. Est sucedeu en
Venezuela?”.
Diógenes
respondeu:
“A luz
nasceu de uma costela da Eva, na Venezuela”.
Ou esta
outra indagação:
“Donde encontrar una campana que suene adentro
de tus sueños?”.
Respondeu
Diógenes:
“Os sinos
dos sonhos não prescindem de badalos”.
Achamos
magnífica a resposta do nosso poeta à pergunta de Neruda:
“Cuándo lee la
mariposa lo que vuela escrito en sus alas?” Diógenes:
“Borboletas
costumam ler quando leves voam sobre o espelho das águas”.
Também
imaginosa a resposta para essa pergunta de Neruda: “Como
se chamam os ciclones quando não tienem movimentos?”.
Resposta: “Bem no começo, quando não em movimento, o ciclone se chama ovo do
vento”. A uma pergunta de Neruda propondo reconstruir o inferno, Diógenes
saiu-se com resposta lógica e bem-humorada:
“Inferno só
é inferno por não permitir reforma”.
O livro é
todo assim. Cheio de inteligência fértil de graça espontânea, e sobretudo, de
sabedoria humana.
VERÍSSIMO DE
MELO
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