quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

A ÂNCORA



JOSÉ MÁRIO DE MEDEIROS
Membro da ANRL


No jardim da bela casa de veraneio do Dr. Diógenes da Cunha Lima, em Pirangi do Norte, encantadora praia do litoral sul, de onde se contempla o azul do atlântico com suas agitadas ondas acompanhadas das espumas mais do que brancas quebrando nos arrecifes que completam a moldura da paisagem, encontra-se uma antiga e histórica âncora, presente do sogro de sua filha, Sr. Tibério Rosado.

Dr. Diógenes adora receber amigos e poeta como é transforma tudo em poesia, beleza, arte, simbologia e amizade, e para além da materialidade dos objetos e das coisas, nos dá uma verdadeira mensagem de vida e de convivência humana. Assim sendo, recentemente quando lá estive, ele me pediu para, depois da palavra, do insigne anfitrião discorrendo sobre o sentido da âncora, que eu acrescentasse alguma palavra. Eu o fiz, em rápidas palavras para não cansar os convivas, porém, achei que deveria escrever algo que completasse o que ali disse.

A âncora é uma massa pesada que atua no sentido de fixar o navio e é considerada um símbolo de firmeza, de solidez, de tranquilidade e de fidelidade. Poderia, o nosso poeta ter encontrado melhor símbolo para o que é a amizade que alimenta a sua vida?

É na casa de repouso, lazer e confraternização que ele fixou a sua simbólica âncora. Em meio à mobilidade do mar e dos elementos, é ela o que fixa, amarra, imobiliza. E aqui se vê também a solidez profissional do nosso anfitrião.

Ela simboliza a parte estável do ser humano, aquela que permite conservar uma calma lucidez diante da onda de sensações e sentimentos da nossa vida privada e social.

A viagem de navio e tudo o que ela se refere ganham muito cedo significado para os povos vizinhos do mediterrâneo. A âncora que assegura a estadia do navio no cais, mantendo-o também nas tempestades em mar alto, é desde muito antigo tempo imagem da esperança e da confiança. Para os cristãos, no começo do cristianismo é ela que traduz a fé e a felicidade eterna. Assim, ela aparece em inúmeras inscrições grafíticas sepulcrais como o mais antigo e genuíno signo cristão, tendo alcançado sua maior difusão até cerca do ano 300. Ainda em nossos dias, visitando as catacumbas romanas encontramo-la frequentemente.

A âncora é a última salvaguarda do marinheiro na tempestade, e na maioria das vezes, como dissemos, está ligada à esperança, que permanece um apoio nas dificuldades da vida.

O apóstolo Paulo afirma:
Esta esperança, nós a conservaremos como âncora sólida e firme de nossa alma. Epístola aos Hebreus 6,19

Concluindo:
A âncora simboliza ainda o conflito entre o sólido e o líquido – a terra e a água. Susta o movimento da vida quando este se torna tempestuoso. É preciso que o conflito seja resolvido não nos esquecendo de que a vida é de fato uma realidade agônica, a fim de que a terra e a água conjugadas favoreçam uma evolução fecunda no planeta terra.

Natal, 20/02/2016


Nenhum comentário:

Postar um comentário