Zélia Duncan é uma poeta, cantora e
compositora madura que atingiu um perfeito equilíbrio entre poesia,
dramaticidade e romantismo, promovendo um profícuo encontro entre a literatura
e a música. Sua voz harmônica é ao mesmo tempo sedutora e de qualidade. O talento
é evidente. Por seu fraseado único, senso rítmico e poesia contagiante, é um
dos bons nomes da nossa música.
Participamos de um seminário no Hotel Barreira
Roxa, em Natal, com o tema “Arte e Cultura como Fator do Desenvolvimento”. Durante
o evento, ela interpretou este poema em prosa de sua autoria. Encantou o
público, e considerei adequado para a nossa Revista. A autora permitiu sua
divulgação e publicação.
VIDA EM
BRANCO
Você
não precisa de artistas?
Então
me devolve os momentos bons
Os
versos roubados de nós
As
cores do seu caminho
Arranca
o rádio do seu carro
Destrói
a caixa de som
Joga
fora os instrumentos
E
todos aqueles quadros
Deixe
as paredes em branco
Assim
como é sua cabeça
Seu
céu de cimento
Silêncio
cheio de ódio
Armas
pra dormir
Nenhuma
canção pra ninar
E
suas crianças em guarda
Esperando
a hora incerta
Pra
mandar ou receber rajadas
Você
não precisa de artistas?
Então
fecha os olhos, mora no breu
Esquece
o que a arte te deu
Finge
que ela não te deu nada
Nem
um som, nenhuma cor,
nenhuma
flor na sua blusa
Nem
Van Goh, nem Tom Jobim
Nenhum
Gonzaga, nem Diadorim
Você
vai rimar com números
Você
vai dormir com raiva
e
acordar sem sonhos, sem nada
E
esse vazio no seu peito
Não
tem refrão pra dar jeito
Não
tem balé pra bailar
Você
não precisa de artistas?
Então
nos perca de vista
Então
nos deixe de fora
Desse
seu mundo perverso
Sem
verso, sem graça, sem alma.
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