sexta-feira, 3 de agosto de 2018

TRÊS POEMAS DE LUIZ CARLOS GUIMARÃES




CANÇÃO

No seu bordel em languidez sem alarde
a poesia se abisma toda em amor.
A soluçar baixinho ao cair da tarde
envolve em lençóis de seda sua dor.


NONA

Quando não mais esperava, chegou
com a doçura de uvas maduras.
Jorro de luz. Estrela-d’alva. Lua
refletida no rio, levada para o mar.
Crença me acenando com a proteção
do céu. Janela aberta à paisagem
que se vê pela primeira vez.
Macia como lã, sua voz na penumbra.
Canto de pássaro tecendo a manhã.


SEGREDO

No tom mais velado
conto o segredo
ao fundo do poço.
Como se fosse gravada
com um ferro em brasa,
nunca se apagará
no rosto da água
a cicatriz da poesia.





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