quarta-feira, 21 de dezembro de 2022
sexta-feira, 16 de dezembro de 2022
LANÇAMENTO no BAOBÁ do POETA
Lançamento de “Canções de Ninar e Cantigas InfantoJuvenis”,
de Diogenes da Cunha Lima
Baobá do Poeta, 15 de dezembro
terça-feira, 13 de dezembro de 2022
segunda-feira, 12 de dezembro de 2022
domingo, 11 de dezembro de 2022
MEIA PORÇÃO de SOL
“Eu: essa
paisagem com
a assinatura
breve e nítida
de quem
não desiste nunca.”
O Seridó
potiguar é palco e inspiração para os alumbramentos da poesia da
currais-novense Iara Maria Carvalho. Sob a ótica da figura feminina, de maneira
singular, as manifestações de um eu-lírico presta tributo à realidade local, narrando
o passado e o presente, e elevando singelamente tarefas simples. A simplicidade
não está apenas no conteúdo retratado, mas também na forma de escrever. A
linguagem é direta e os versos olham para a simplicidade das coisas, fazendo
com que a complexidade do cotidiano seja compreendida em sua extensão através
de um diálogo honesto com o leitor.
Os
exercícios líricos de Iara, escritos em versos livres e concisos, iluminam a
força das palavras e das imagens. Fala da natureza, da memória, da família,
da vida doméstica, de amores, do seu ser e do mundo. No entanto, sua poesia
está longe de ser óbvia ou redundante, muito pelo contrário, é texto denso cujo
alcance transcende as páginas do livro. São revelações acerca dos pensamentos e
posturas que abrangem o ideário da autora.
O
espírito independente se apresenta abertamente ao longo dos versos e das
páginas cúmplices. É uma literatura que é resistência porque é catarse. Trata-se de
transcendência, de uma mulher que se recria ou se descobre por meio da
literatura, da criação poética. “Meia Porção de Sol” é surpreendente, talentoso
e fascinante. A autora merece o elogio do seu
orientador de mestrado, Derivaldo dos Santos. Iara além de ser poesia, é
simpatia.
DIOGENES da CUNHA LIMA
DCL LANÇA LIVRO de CANÇÕES
O
escritor e poeta Diogenes da Cunha Lima vai lançar livro reunindo todas as suas
canções infantis e juvenis. O lançamento de “Canções de Ninar e Cantigas
InfantoJuvenis” está marcado para 15 de dezembro, a partir das 17h, no Baobá do
Poeta, com apoio do SESC e a participação de intérpretes e parceiros musicais do autor,
apresentando poemas que exploram uma de suas formas poéticas preferidas: as
canções. Com produção de
Olindina Freire e prefácio de Roberto Lima, a coleção musical tem canções
dedicadas a filhos, netos e pimpolhos de amigos.
Além de dezenas
de canções gravadas, que lhe deram a condição incontestável de poeta musical, Diogenes,
85 anos, tem mais de trinta livros publicados. No novo livro, ele reúne as letras
de suas canções e QR-Code com interpretações de Lucinha Lira, Zezé Delgado,
Artur Porpino, entre outros. Com uma linguagem acessível e coloquial, mostra a
influência da música na vida do compositor. Seus versos simples contemplam a
consciência humana sobre o encanto existencial e os sonhos, em um lírico
impregnado de elegia à vida.
O autor
dialoga ao mesmo tempo com a tradição e a modernidade, abordando o conhecimento
do eu, do outro e do mundo. Grande voz
da cultura potiguar, versátil e incansável, Diogenes da Cunha Lima segue em
plena atividade literária. Em de “Canções de Ninar e Cantigas InfantoJuvenis”
aparece inteiro: breve, leve e sublime. Uma poesia que canta e encanta. O menino
que desde muito novo viveu o universo musical, nos traz nesses versos sua
música tão emocional e, ao mesmo tempo, tão eterna, aguçando novos sentidos,
novas percepções.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2022
CASCUDO e VIVI
![]() |
Busto de Veríssimo de Melo |
Na gaveta dos papéis desarrumados
encontrei esta semana, num envelopão de papel madeira já com as manchas do
tempo, um recorte do jornal “A União”, de João Pessoa, página inteira, com uma
matéria assinada por Veríssimo de Melo. Saiu na capa do “Segundo Caderno”,
edição de 8 maio de 1987, com o título “O folclore de Cascudo”. Leitura deliciosa, como se leitor estivesse
ouvindo uma conversa solta dos dois grandes folcloristas, excelentes
conversadores, amigos e parceiros, numa mesa de bar, na Peixada da Comadre, ou
mesmo na casa de um deles.
Para o deleite do leitor transcrevo
alguns trechos da matéria começando pelo começo, Vivi escrevendo assim:
- Luís da Câmara Cascudo era homem
quotidianadamente bem-humorado. Sempre o encontrava trabalhando, escrevendo à
máquina, quando não recebia visitas de admiradores e amigos inumeráveis.
Cascudo era mestre também na arte de conversar. Não havia assunto, no plano da
cultura, que desconhecesse. Falava e deixava a gente falar. A sua alegria
interior era decorrência de sua cultura, de sua erudição. Muitas vezes também o
surpreendia lendo, na rede, fumando seu charuto. Certa manhã, entrando no
quarto dele, encontrei-o na rede, com um grande travesseiro nas costas; lendo.
Embaixo estava enorme bacia, o que estranhei. Ao sair, perguntei o que
significava aquela bacia. Seria algum ritual folclórico? – indaguei. Ele deu a
resposta adequada ao curioso: “Jumento – disse ele – como é que poderia acertar
num cinzeiro deste tamanho, me balançando na rede e lendo?” Era cinzeiro
gigantesco... A seguir, outras “pérolas do humor de Cascudo”.
- Nilo Pereira foi outro amigo
diletíssimo de Cascudo. A ele, como prova de amizade, dedicou seu livro
“Literatura Oral”, um dos mais importantes. Nos últimos anos, Nilo Pereira
sempre vinha a Natal visitar o Mestre Cascudo – a quem tratava por Berbelho.
Assistia muitos encontros dos dois. Ocorriam coisas e gestos inacreditáveis.
Basta dizer que a maior prova de estima de Cascudo por Nilo Pereira se
manifestava através de um ponta-pé na canela... Nilo gritava como uma criança e
ficava manquejando vários minutos. Ou então Cascudo lhe atirava todos os
travesseiros que estivessem à mão. ”
- Quando trabalhava à tarde no jornal
“A REPÚBLICA”, que ficava vizinho à casa de Cascudo, observei muitas vezes o
Mestre saindo de casa em direção à Ribeira. Roupa escura, chapéu, bengala,
fumando enorme charuto. Ia a pé, falando com um e com outro pela calçada. Um
dia, me deu vontade de saber para onde se dirigia o Mestre. Acompanhei-o de
longe. Passou pela rua Dr. Barata, falando com muita gente. Finalmente, entrou
na Av. Tavares de Lira e sumiu num bar. Esperei um pouco e resolvi também
entrar no bar para falar com ele. Aproximei-me e observei a cena: estava
sentado à cabeceira de uma mesa larga, cercada por garçonetes e motoristas de
praça. Tomava uma cervejinha vespertina. Quando nos falamos, ele se justificou,
dizendo: “Pois é, meu filho, estou aqui estufando costumes! ” E estava. ”
- Homero Homem é autor de um belo
poema sobre Cascudo. Numa visita que fizemos aos dois ao Mestre – Homero
residente no Rio de Janeiro, há muitos anos – Cascudo saudou o poeta com esta
exclamação inusitada: “Meu filho, escreva um poema ruim, que eu quero ler! ”.
- A meu respeito, na presença de
amigos comuns, inventava coisas do Arco da Velha. A propósito de minha
conhecida magreza – antes muito mais acentuada do que hoje – ele me
caracterizou uma vez desta forma: “O corpo de Veríssimo é um pretexto para
guardar a alma”.
GRAÇA e INVENÇÃO do POETA
Luís
Carlos Guimarães (1934 – 2001) inventava ou modelava histórias, que despertavam
o bom humor e o espírito. O poeta dizia investir em amizades. Teve lucro. A sua
aplicação rendeu-lhe muitos amigos devotados, admiração unânime em nossa cidade
e em muitas pessoas de qualidade no País.
Esse
poeta do Brasil não teve, como merecia, o reconhecimento nacional, ainda que
recebesse o louvor de grandes poetas. Entre os mais talentosos: Lêdo Ivo,
Gilberto Mendonça Teles, Francisco J. C. Dantas, Sérgio Castro Pinto. Também de
poetas tradutores como Ivo Barroso e Fernando Py e de escritores de expressão a
exemplo de Pedro Nava e Juarez da Gama Batista.
Tinha
razão Luís da Câmara Cascudo quando, desalentado, declarou que Natal não
consagra e nem desconsagra ninguém. Em verdade, a literatura da província mal
ultrapassa as fronteiras estaduais. Somos ilhas culturais no arquipélago
brasileiro. Estamos longe dos polos, Rio de Janeiro e São Paulo. E mesmo dos
centros difusores regionais: Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador.
Luís
Carlos dava às suas histórias contextos e contornos agradáveis. Ninguém
distinguia o real da fantasia. Parece que o mais importante era o inusitado,
surpreendente mesmo e o bom humor.
Ele
aproveitou um sábado de carnaval para tentar pôr em dia leituras que tinha
programado. Lia, feliz, em sua rede, quando Lêda, sua mulher, lhe repetia que
fosse comprar um xarope para a tosse do menino. Saiu contrariado. Já no portão,
encontrou os seus amigos Tota Zerôncio e Carlos Castilho. Tota estava
fantasiado e Castilho vestido de anjo. Seguem para a farra. Luís volta no
domingo, carnavalesco. Lêda, irritada, reclama tê-lo procurado por toda parte,
inclusive no necrotério. A resposta: “Está aqui o xarope do menino. A culpa não
é minha, mas do anjo. Notei que as asas do anjo não cabiam no volkswagen e eu
tive que encontrar um carro apropriado, a caminhoneta de um amigo”.
Ao lado
desse tipo de reação, Luís Carlos Guimarães foi profissional rigorosamente
responsável e lúcido, jornalista, juiz e advogado. Em nosso Escritório, ele
usava e abusava da “lógica do razoável”. Eu o apresentava dizendo que o juiz
Luís aposentou-se depois de 30 anos de lazer. Ele me dava o troco dizendo que
não foi desembargador por minha causa. Explicava que ele, juiz em Lajes, foi
por mim provocado com uma petição em versos e ele também assim despachou.
Depois, lembrado o seu nome para o Tribunal, um desembargador poeta objetou
afirmando que ele não levava o Direito a sério, a ponto de fazer poesia nos
autos do processo.
Costumava
olhar o tempo e convidava Artur Cunha Lima para uma cerveja: “Nós vamos dar um
dia desses ao patrão?”.
Nomeava
amigos com apelido ou qualificação carinhosa. Um, ágil e posudo, seria
Galo-de-campina, a mim se referia como Didi saxofone ou Didi passarinho.
Dedicou-me poema composto com nomes de dezenas de passarinhos. O Gordo Celso da
Silveira era “Flor obesa”. Transformava o ludismo da vida na lúdica do verso e,
então, acordava palavras esquecidas em impensadas associações.
Humberto
Hermenegildo e eu estamos fazendo a sua Antologia Poética. A tarefa não é
fácil, porque a dificuldade reside em escolher flores entre tão belas flores.
Como
prometera a Carlos Newton Júnior, recebeu a “moça” Caetana com taças de vinho e
partiu no fim da tarde. Deixou perdido o seu olhar azul, o tempo rememorado,
desamparada a ternura, o sabor poético da vida. Verdadeiramente deixou a cada
amigo acrescida solidão.