No
castiçal da saudade
eu guardo
a recordação
das
brincadeiras de roda
na fogueira
de São João.
Com milho
assado e canjica,
fogo de
roda e balão,
vai
passando uma e vem outra
fogueirinha
de São João.
Cantando
criô-lá-lá
e anel de
mão em mão,
moça e
rapaz se amando
na
fogueira de São João.
As
estrelas lá no céu,
piscando,
olham este chão,
se
assemelham às fogueiras
das
noitadas de São João.
A
juventude passada
fazia
adivinhação
com faca
na bananeira,
na
fogueira de São João.
Até mesmo
o vaga-lume
com seu
bonito clarão
também
vinha admirar
as
noitadas de São João.
Na
fogueira de São João
se fazia
a brincadeira
das
cantarolas de roda
com
ciranda... a noite inteira!
Cantando
Vestido Branco
e anel de
mão em mão.
Oh! Meu
Deus como era bom
As festas
do meu sertão.
Enchia-se
bacia d’água,
pegava agulha
e carvão,
dizia-se
os nomes das moças
bonitas
do meu sertão.
Um
tiquinho das comidas
sempre
guardava... um bocado
botava em
baixo da rede,
sempre
sonhava acordado.
A
fogueira incendiava,
ficava
aquele brasão,
pisava e
não me queimava,
tinha fé
em meu São João.
Da minha
infância querida
só tenho
a recordação
das
noites iluminadas
com
fogueiras no sertão.
As tochas
das mariposas
causavam
admiração...
Lá no céu
também faziam
fogueiras
de meu São João.
Chuva de
ouro e de prata,
cara dura
com balão...
Nas
festas mais animadas
brincavam
com foguetão.
Na
fogueira de São Pedro
voltava a
competição
de
compadres e comadres,
como se
fosse o São João.
Lá no
clarão da fogueira
se
brincava de limão,
de
prendas e de berlinda,
também
anel de cordão.
Cantava-se
assim:
- O limão
que anda na roda,
andando
de mão em mão,
lesa o
menino, lesa
o pobre
do bestalhão.
NILSON de BRITO
(1929 - 2019)
NILSON DE BRITO, O HOMEM, O POETA (1929 - 2019)
ResponderExcluir"A vida é uma constante ilusão. Nascemos, crescemos e quando já temos um grande rol de pessoas caras, sejam familiares, sejam amigos, a morte traiçoeira e arrebatadora começa a fazer os seus estragos”. Assim escreveu Nilson de Brito, o Capitão, no prólogo de um de seus livros, e ao fazer essa confissão deu a público a radiografia da sua alma: foi um homem simples, sem ambições materiais, mas sabia exatamente onde estava a fortuna que carecia para bem viver.
E essa fortuna outra não foi senão a que, mais do que ninguém, ele soube amealhar. Em verdade, foi imenso o patrimônio que formou, um patrimônio afetivo, à base de parentesco e de amizades.
Em suma, o Capitão foi um homem do povo e pelo povo. Era patente a sua predileção pelos humildes; estava sempre ao lado dos menos favorecidos. Humano, demasiadamente; intransigente, se diante da falsidade ou desonestidade.
Ele próprio foi uma espécie de eco da boca das ruas, do canto dos poetas cordelistas de todas as eras, famosos ou esquecidos.
As fontes que mais lhe influenciaram a formação foram a boa prosódia dos alpendres, a oralidade dos violeiros e a literatura de cordel romanceada. Por meio desta lhe foram inculcadas as noções rudimentares da ciência, as datas e os nomes dos vultos da história, os princípios básicos da geometria e da matemática e, com muita fartura mesmo, informações sobre a nossa geografia física, econômica e humana.
"Vou andar pelo mundo!", disse para si, muito cedo, atraído pelas notícias de outras ribeiras. Deu no que deu, no que ele se entendia que era: um self-made man , ou la même chose (isso, em francês, ele aqui diria!), um homem que se fez por si mesmo.
Era um mensageiro da alma nordestina, dando-nos notícias de João Grilo, de Cancão de Fogo, de Pedro Malazarte, do Pavão Misterioso e de toda uma comunidade de heróis do romanceiro popular.
Sabia da sua aptidão para encantar. Aliás, tinha o divino dom de conversar com uma criança com a mesma empolgação que falava com um sábio.
Da sua coleção de adágios, sempre uma pérola de como proceder, dada essa ou aquela situação embaraçosa, era sugerida ao interlocutor, e fazia questão de ilustrar a eficácia da lição com vivências próprias, enriquecendo-a com sua particular maneira de enxergar o mundo, e essa forma de ensinar foi um diferencial da sua mestria.
Compôs músicas, criou escolinha de futebol, contou muitas estórias, foi tabelião público, escritor... e influenciou o destino de muita gente.
Nesta data tão festiva
Encantou-se em 24 de janeiro deste 2019, um ano de muitas chuvas a mais!
Quem sabe venham do coração de algum anjo gotejador de inverno, desses com quem o Capitão agora proseia e encanta pelas veredas do Céu!