Acabamos
de perder a pianista e professora de música Deijair Henrique Borges, que se
encantou domingo, dia 05. Diretora da
Escola de Música da UFRN, diretora da Instituto de Música Waldemar de Almeida
(Fundação José Augusto), diretora da Orquestra Sinfônica do Rio Grande do
Norte. Dirigiu, também, o Solar Bela Vista. Toda uma vida voltada para a música
e por esses caminhos valorizando o músico da terra (lembrar o seu “Projeto
Memória”, quando diretora da Escola de Música da UFRN). Foi a criadora do famoso Regional Sonoro,
referência na música potiguar. Sua obra será inesquecível.
Em
outubro de 2017 este Jornal de WM dedicou boa parte de seu espaço ao “Projeto
Memória”, criado e dirigido por Deijair. Saiu de uma remexida pelas gavetas dos
papéis desarrumados onde fui encontrar cartas de Carlos Drummond de Andrade,
Pedro Nava, Afonso Arinos e Murilo Melo Filho dirigidas a Deijair, todos
aplaudindo o trabalho de nossa querida professora à frente da Escola de Música
da UFRN. Em homenagem a memória de minha
querida amiga, transcrevo a coluna de 01 de outubro de 2017, que tem o título
de “Projeto Memória”:
“Na
gaveta dos papéis desarrumados encontro um envelopão, já com as marcas do
tempo, guardando lá dentro quatro cartas preciosas que tratam do mesmo mote: o
“Projeto Memória” desenvolvido pela Escola de Música da UFRN quando da
administração da pianista e professora Deijair Henrique Borges, aí pelos meados
dos anos de 1980. O time dos missivistas dá de 7 a 1 na Alemanha: Carlos
Drummond de Andrade, Pedro Nava, Afonso Arinos, Murilo Melo Filho. As cartas
são cópias de originais que me foram repassadas, faz tempo, por Deijair, minha
querida amiga. Apenas uma manuscrita, a de Drummond. Outro detalhe: a carta de
Pedro Nava foi datilografada em papel tendo como timbre o famoso relógio da
Glória, bairro onde o grande escritor morava no Rio de Janeiro.
A carta
de Drummond está escrita em meia folha timbrada com o seu nome completo: Carlos
Drummond de Andrade. Já Murilo Melo Filho usou o papel com o timbre da revista
Manchete. Todas as quatro cartas foram escritas no mesmo mês de julho de 1983,
diferença curta entre os dias, parecendo até coisa combinada entre eles. Começo
essa história transcrevendo a carta de Drummond, letra firme, redondinha,
poética:
“Rio de
Janeiro, 17 de julho, 1983
Prezada
Professora Deijair Henrique Borges:
Que
presente régio, a série de LPs do Projeto Memória, da UFRN! Fiquei deslumbrado
com esse trabalho admirável, que atesta de maneira cabal a musicalidade da
gente rio-grandense-do-norte, tanto na área popular como na erudita, repassando
por Oriano de Almeida, que eu conheço pessoalmente e que muito admiro. Estou
‘curtindo’ os discos no meu escritório, aos poucos, como se deve saborear um
vinho de qualidade. E agradeço-lhe de coração a ideia gentil de oferecer-me
esse conjunto de excelente realização técnica.
O abraço
e a admiração de Carlos Drummond de Andrade”.
A CARTA de PEDRO NAVA
Nava, dos
nossos maiores memorialistas, autor de uma obra monumental em 6 volumes (“Baú
de Ossos”, “Balão Cativo”, “Chão de Ferro”, “Beira-Mar”, “Galo-das-Trevas” e
“Círio Perfeito”) já havia prestado anteriormente uma homenagem às letras do
Rio Grande do Norte. Um poema de Nei Leandro de Castro, “Lendo Pedro Nava”,
está incluído na edição de “Beira-Mar”. Em “O Círio Perfeito” foi a vez de Luís
Carlos Guimarães com “Naveana do Galo-das-Trevas”. Vejamos a carta de Pedro
Nava:
“Rio de
Janeiro, 12 de julho de 1983
Prezada
Diretora Deijair Henrique Borges,
Recebi
ontem e já me dei o prazer de ouvir alguns dos discos tão bondosamente
oferecidos. Muito bons e meus parabéns pela tão bela realização de “memória”
que vem sendo feita no Rio Grande do Norte, pela sua música. Que beleza se
todas as nossas Universidades e Escolas de Música fizessem o mesmo para seus
Estados.
Estou
incluindo um bilhete de agradecimento ao Prof. Diógenes da Cunha Lima, de quem
ignoro o endereço. Abuso de sua bondade e mando-o aos seus cuidados. Queira receber com meus agradecimentos, as
expressões de minha afetuosa simpatia. Seu muito grato. Pedro Nava”.
A CARTA de AFONSO ARINOS
A
terceira carta é de outro grande escritor mineiro, Afonso Arinos de Melo
Franco, historiador, crítico literário, memorialista com M grande, imortal da
Academia Brasileira de Letras e também político. Vários mandatos de deputado
federal e senador. Ministro de Estado. Sua carta tem feitio de ofício:
“Rio de
Janeiro, 14 de julho de 1983
Exma.
Sra.
D.
Deijair Henrique Borges
M.D
Diretora da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Prezada
Diretora,
Tenho a
agradecer-lhe a gentil oferta de discos com gravações musicais de compositores
desse Estado, que acabo de receber. Alegrou-me sobremodo tomar conhecimento da
elogiável e patriótica iniciativa dessa Universidade, que preserva e divulga os
valores culturais da terra e, assim, contribui para revelar e incentivar o
desenvolvimento de novos talentos.
Está,
pois, de parabéns, a UFRN e, em especial, a Escola de Música sob a competente
direção de V.Exa. Rogo-lhe transmitir ao caro amigo Prof. Diógenes da Cunha
Lima minhas palavras de sincero agradecimento.
Aceite,
prezada senhora, as saudações mais respeitosas de Afonso Arinos.”
A CARTA de MURILINHO
A carta
de Murilo Melo Filho, grande jornalista, natalense nascido na Ribeira, também
imortal da ABL, está escrita assim:
“Rio, 12
de julho de 1983
Professora
Deijair:
Fiquei
emocionado e feliz ao receber a coleção de discos que teve a gentileza de
enviar-me. É uma felicidade poder escutar a música da terra natal, em
excelentes produções.
Peço-lhe
transmitir aos companheiros de trabalho as minhas sinceras congratulações pela
excelente obra que estão realizando. Felicidades para todos. Prossigam.
Cordialmente, Murilo Melo Filho.
P.S.-
Registrei na seção “EXPRESSAS”, da Manchete o lançamento de sua coleção. M.”
terça-feira, 14 de junho de 2022
DEIJAIR e a MÚSICA
WODEN
MADRUGA
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