Ele morreu há 56 anos. Doutor Eutiquiano
Garcia Reis era um magistrado padrão. Uma figura singular. Bem gordo, solteiro,
morava sozinho, bigode bem cuidado, se vestia elegantemente. Invejável cultura
jurídica, literária, musical. Frasista e ateu, dizia: “Morrerei com o sentimento
de Deus ouvindo a Nona Sinfonia de Beethoven”.
Segundo o bacharel Nei Marinho,
Eutiquiano costumava dizer que “o melhor promotor do Rio Grande do Norte é um
vendedor de tecidos”, ou seja, Diogenes da Cunha Lima, pai, um comerciante
e seu adjunto de promotor em Nova Cruz por vários anos. Conta
o mesmo Nei que sobre ele o juiz brincava: “Nei Marinho não deu denúncia a uma dama da Rua do Sapo, Vicênzia, porque se engraçava com ela”. A
dita senhora era uma conhecida meretriz.
Certa vez, Diogenes pai o encontrou casualmente em Natal. Indagou o seu endereço, gostaria de visitá-lo, pois só
sabia que morava no Barro Vermelho. A resposta de Eutiquiano foi puro nonsense:
“É muito fácil. Sabe onde é o Baldo? Pois bem, subindo ao Alecrim, na primeira
rua à esquerda, na última casa, o senhor verá uma loura na janela... A minha casa é a vizinha. É facílimo”. O ponto de referência
era a loura na janela.
Sobre ele escreveu o advogado, jornalista e acadêmico Ticiano Duarte, em 2012: “Nestes tempos de tantos desencantos, lembrar o nome
do Dr. Eutiquiano, pela sua história de independência e lisura, é uma forma de
homenagear o passado de probidade da magistratura do RN”.
Dr. Eutiquiano Reis morreu aos 59 anos
de idade. Ele honrou a toga que vestiu. Foi um grande juiz. Faz falta.
quinta-feira, 11 de agosto de 2022
EUTIQUIANO REIS - UM MAGISTRADO PADRÃO
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