Do professor Ezequias Pegado Cortez sobre seu cunhado
Murilo Mello Filho:
Uma minuta, Diógenes, saindo d’alma, a verdadeira.
Conheci Murilo em junho de 1966, quando o visitei no
apartamento em que morava, nas proximidades da Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de
Janeiro.
Fiz essa visita em razão de pedido da minha namorada e depois mulher, mãe dos meus filhos
e avó dos meus netos, Ana Emilia.
Tinha 21 e ele 38 anos.
Já então era um profissional vitorioso no jornalismo
nacional, um verdadeiro self-made-man neste campo de trabalho árduo e
intelectual. Um marco nessa elite.
Recebeu-me na sala do seu apartamento, com a mulher Norma
e, lembro bem, seu último filho Sérgio, ainda bem pequeno.
Os demais filhos, Nelson e Fátima, falaram comigo de
passagem e foram para os aposentei internos.
Sabia que estava tendo o privilégio de conhecer um homem
brilhante e inteligente, padrinho e irmão mais velho da minha namorada havia 3
anos, amor que se mantinha por cartas diárias, sem telefone e muito menos
internet!!!
Norma viu minha tensão e fez tudo para que relaxasse,
falava e perguntava sobre Vacaria/RS, onde fui tomar posse em 1965 e trabalhar por uns anos no Banco do Brasil.
Murilo, na sala de visitas, manteve-se de pé e falou
muito pouco, calado a sua maneira, mas me analisava e me parecia entrar n”alma,
no meu modo de pensar, no meu estilo de ser e nos meus valores...
Encontro marcante aquele. Um dos mais da minha vida.
Passaram os anos e fui transferido para Mossoró/RN, a
pedido, porque precisava continuar o curso de economia, que havia começado na
UFRN e trancado a matrícula na Universidade de Caxias do Sul/RS, onde cheguei a
terminar o 1° ano do curso, cobrindo a distância de 111 km todas as noites.
E vem o ano de 1968 e os conflitos ideológicos quentes no
Brasil de então.
Ele, a pedido de sua mãe, minha querida sogra Hermínia,
consegue aprovar o meu pedido de remoção de Mossoró para Natal, onde me tornei
economista pela UFRN, fato que me
comunicou com o seguinte telegrama:
“Esequias, o Presidente Néstor Jost, do Banco do Brasil,
acabou de me dizer que você vai passar
o Natal em Natal. Abraço. Murilo”
Isto foi em 22.12.1968 e ele nunca mais havia tido
nenhuma palavra comigo, escrita ou falada.
Tenho certeza que me tirou, na hora certa, de um ambiente
de muita tensão ideológica em que vivia
e pouco notava...
Agradeço-o até hoje e vou fazê-lo sempre.
Depois, com o passar dos anos, convivendo familiarmente e
vendo cada vez mais o seu valor, tive a honra de presenciar muitas das suas
vitórias, entre as quais ser Imortal da Academia Brasileira de Letras, depois
de sê-lo também da Academia Norte-rio-grandense de Letras.
É um homem que gosta de viver, todavia tem a consciência
do nosso fim e me dizia vez em quando, com um ar de riso, ao seu estilo: “elegeram-me imortal porém não
imorrivel. Infelizmente”.
Uns anos atrás me chamou para ser seu advogado no Rio e
São Paulo. Tratou-me com absoluta confiança e procurei dar-lhe o máximo da
minha capacidade, porque jamais esqueci o que me fez.
Murilo, você foi, é e sua vida continuará ser um exemplo
para mim.
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