Faz gosto a qualquer pessoa de bem ter
amizade com Lúcio Teixeira. Ele é formidável. A nossa amizade vai além do
compadrio, além do reconhecimento de suas virtudes. Ele é em tempo integral e
dedicação exclusiva, um cidadão verdadeiro. Como advogado, professor, diretor
de ensino superior, presidente da Academia de Letras Jurídicas do RN. Exerce
uma liderança amena e amiga. Constitui uma família de quem tem muito do que se
orgulhar.
Como dirigente universitário, ele teve
todas as condições de se tornar reitor, mas a sua natural humildade, ou seu
jeito de ser, de não se propor, talvez o tenha impedido. Na nossa permanência
na UFRN, percebi que problema sobre a responsabilidade de Lúcio não era
problema, era assunto resolvido. De fato, ele encontra soluções inteligentes e
inesperadas que satisfazem.
Além das relembranças, dos fatos
pretéritos, que ele traz, por isso as memórias, Lúcio é absolutamente singular
por ter uma memória seletiva, fiel e exata. Escrever não é só libertar a alma
dos fantasmas, é também tornar o texto iluminado. E ele sabe fazer. Por isso, o
caminho do escritor é complexo, e como dizia Lao Tsé: “Um caminho de 100 léguas
começa com o primeiro passo”. Pode-se dizer também que há doces e doces. Da mesma
forma que há memórias e memórias. As de Lúcio Teixeira são de confeitaria fina.
A massa é leve, o açúcar na medida certa, o sabor de deixar saudade na boca.
Como na culinária, a literatura é questão de acertar o ponto. E ele acertou com maestria.
Recuperando lembranças e fatos, Lúcio – (eu
li no Google!) é o luminoso, nascido como a manhã - abriu o baú do passado para
transformá-lo num livro que registra a sua singela e profunda relação de amor
com a vida e os seres humanos. Desde as origens. Ama a sua terra, Lages, onde
nasceu. Relembrando, é um bom poeta, simples e objetivo, cristalino, capaz de
estabelecer novos rumos.
Um livro de memória é empreitada caprichosa.
Várias histórias reunidas em um só espaço. A expectativa do leitor é encontrar
unidade e diversidade. Pois o autor deste livro, cheio de recursos, consegue
que a gente enxergue a unidade – personagens flagradas em altas doses de sua
humanidade, sem que a leitura canse.
Quando a gente menos espera, o memorialista diversifica. Muda de tema, tom,
tratamento. Ele vai abrindo janelas. A sua linguagem tem força e dá um sabor
especial às histórias. Abre um leque para mostrar o momento de vida de seres
que vivem e lutam no teatro do cotidiano. Alguns episódios conseguem cenários
marcantes, quase fotografam locais com palavras.
Ariano Suassuna afirmou: “Não existe
diferença entre a literatura e a vida. A literatura foi o caminho que eu
encontrei para enfrentar essa bela tarefa de viver”. As histórias deste livro
vão sensibilizar os leitores. São momentos especiais vivenciados pelo autor. É
o universo do cotidiano levado para o mundo da literatura. O leitor não vai
achar textos metafóricos, mas textos que revelam um olhar penetrante, às vezes
telúrico, sobre os acontecimentos.
Nesta oportunidade, Lúcio Teixeira dá mais um
passo na estrada literária e entra no mundo da memória mostrando que pode criar
o seu próprio estilo, longe das modas literárias que chegam e passam. Ele nos
leva pelo seu universo mostrando-nos acontecimentos da vida: os avanços, as
dúvidas, os medos, a coragem, a vida familiar. O mundo mental se enlaça vigorosamente
com o mundo real. Ele retrata comportamentos humanos. Porém o melhor de tudo, a fonte de prazer do
livro, é a mente aberta do escritor. Trata-se de um olhar sensível. Olhar em
questão presente em todo o livro.
O livro nos emociona graças à linguagem
de revelação. Não se furta a temas fortes. Mas tudo é narrado do jeito que a
vida é, isto é, com porcentagens de dureza e de ternura. Leitura que perdura
nas esquinas da memória. A narrativa traz histórias que pairavam no imaginário
de Lúcio e que podem também fazer parte do imaginário dos leitores. Esta é a
tarefa da literatura: a criação de universos paralelos. Uma tarefa que o
escritor realiza imprimindo o seu próprio estilo com grande categoria.
DIOGENES DA CUNHA LIMA
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