HOJE TEM ESPETÁCULO
E o sêo Maestro ataca a
furiosa
Na marchinha militar;
Toda a moçada garbosa
Racha os peitos a tocar:
Paratibum... tibum...
tibum...
tralalalá... tralá... larà...
Paratibum... tibum...
tibum...
Tralalará...tralá... lará...
Daí a pouco o Diretor do
Circo
Que é também trapezista e
domador,
Vem e anuncia “ao muy
distincto público”
Que o espetáculo “vai serr
superrior”.
Aí, né? todo mundo bate palma;
E enquanto o diretor se
fantasia,
A meninada em peso se extasia
Com "Chupeta" o
palhaço popular.
Chupeta brinca e mexe com a
platéia,
Imita os moradores do lugar;
Pega uma viola sem cordas
E então desata a cantar:
As veiota, meus sinhores,
já perdero as ingrenage;
parece automove véio
qui num sai mais da garage.
No "poleiro" a
meninada
Do "hoje tem
goiabada"
E do "palhaço quem
é?"
Contente com a palhaçada,
Assovia e bate o pé.
0 Diretor, no seu fraque,
Anuncia um outro artista:
Lá na porta da barraca
Vem JUPIRA, a trapezista.
Faz-se um silêncio completo,
Não se ouve um só rumor;
Só Mazinho se levanta,
Põe-se a ruflar o tambor.
E Jupira se equilibra
Na ponta do trampolim;
Dá um salto, pega a corda,
Nunca se viu coisa assim!
Sobe, faz peito-de-pomba,
Dá cada salto mortal;
É a maior trapezista,
Não pode haver outra igual.
E quando sobe mais alto,
A uns vinte metros do chão,
Todo mundo se estremece,
Parando a respiração.
Aí, Mazinho, mais rápido,
Põe-se o tambor a rufiar.
Jupira, num salto imenso,
Pega o trapézio no ar.
Chovem palmas e mais palmas.
Como no dia da estréia,
Jupira, de um lado e de
outro,
Joga beijos à platéia.
E vem o drama: A Ré Misteriosa...
Sai-se depois, um a um,
Enquanto que a “furiosa”
Ataca o paratibum.
...Dorme o circo na praça
'abandonada;
A multidão aos poucos se
retira."
É, por hoje acabou-se a
marmelada
(E eu vou sonhar com Jupira).
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Assim passou, da tarde lenta na fragrância,
Na voz do circo a voz da minha infância.
Onde andarão Chupeta e seus gestos ridículos,
Comparando as mulheres com os veículos?
E Jupira, tão branca e tão frágil, esguias
Pernas bailando em mil acrobacias?
0 seu olhar fitando o povo, embaixo, atento,
Despertou-me o primeiro pensamento
De amor, a descoberta imprevista do sexo;
0 sonho se tornando mais complexo,
A vida se embrenhando em novos rumos, mista,
Tudo por causa de Jupira, a trapezista.
...Morreram, com certeza: 0 Chupeta, o palhaço,
Agonizou de dores e cansaço;
Jupira, numa noite, errando o companheiro,
Se esfacelou no chão do picadeiro.
E a charanga em sinal de respeito incomum,
Não tocou nunca mais: Paratibum... paratibum.
E assim como a bandinha na distância
Calou-se para sempre a voz da minha infância.
IVO BARROSO
Já dei minha opinião no seu e-mail. Texto fabuloso vou ilustrar mui honradamente. Um abraço.
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