Nos anos
50, meu tio Odilon Amâncio Ramalho, pai de Noilde Ramalho, revolucionou Nova
Cruz. Homem do progresso, entre outras coisas trouxe energia elétrica para a
cidade e fundou o Cinema Éden, que a seguir foi alugado por Paulo Bezerra. Era
um senhor nacionalista, chamado por muitos de comunista. Começava a sessão com
o épico “O Guarani”, de Carlos Gomes. O cinema era dividido em três classes, na
mais simples o público ficava em pé no corredor. Seu porteiro folclórico chamava-se
Zé Boca da Noite, um cachaceiro, um farrista incorrigível. Sem pagar um tostão,
ele colocava os companheiros de noitada para ver os filmes. A esposa de Paulo
Bezerra soube da mamata e se queixou com o marido, exigindo demissão imediata. “Se
eu der as contas pra ele, quem danado vai dar emprego ao pobre homem”,
respondeu. Inconformada, ela passou a ficar na porta do cinema, vigiando o
empregado. Impedidos de assistir aos filmes, os parceiros se queixavam com o
próprio arrendatário do cinema: “Doutor Paulo, Zé deixava a gente ver os filmes
e agora estamos impossibilitados”. Paulo Bezerra tirava dinheiro do bolso e
dizia: “Tome, compre um bilhete e veja o filme”. Certa vez, um cliente habitual
se queixou que o cinema estava cheio de pulgas. “Veja!”, mostrou uma. “A pulga
tem o carimbo do Éden? Não tem! Pois foi você que trouxe”, rebateu Zé Boca da
Noite.
quinta-feira, 28 de janeiro de 2021
ERA UMA VEZ A PULGA DO CINEMA ÉDEN
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